A Esquisitice
Há poucas semanas, participei de um diálogo sobre literatura e o facilitador da conversa, um doutor em história, nos contou sobre a origem da palavra vocação. Esta vem do latim “vocare”, verbo que quer dizer “chamar”, ou seja, a vocação é um chamado da vida a expressar um talento, uma aptidão natural para executar algo que vai lhe dar prazer. É como uma ideia que insiste em permanecer, mesmo quando queremos descartá-la. E este é um dos principais desafios (e oportunidades) do crescimento do ser humano: encontrar e expressar a sua vocação única no mundo.
Mas geralmente isto não é tão fácil por alguns motivos: a nossa educação, as organizações, a sociedade e inclusive a nossa família nos convidam a nos conformarmos a formatos pré-estabelecidos para nossa vida — a boa menina, o bom aluno, um bom emprego, seguir o plano de carreira da sua empresa, ser promovido, casar e ter filhos — todos formas de sermos aceitos e incluídos nos grupos aos quais gostamos de pertencer. Contudo, ouvir o chamado da vida exige muita coragem (palavra cuja origem é “agir com o coração”). Somos seres singulares, únicos, e expressar a nossa vocação vai exigir de nós quebrarmos alguns tabus, sairmos do óbvio, eventualmente rompermos com o sistema com o qual estamos habituados e assim geralmente nos tornamos esquisitos para aqueles com quem estávamos acostumados a conviver. Se você quiser viver uma vida plena, vai ter que correr o risco de se tornar esquisito (do latim exquisitu, algo procurado e escolhido com cuidado). No português, esquisito tem o significado de anormal. E é isto mesmo que estou dizendo: você talvez pareça anormal, fora da norma, da regra estabelecida pelos outros para a sua vida.
E o interessante é que podemos estender esta mesma lógica para sua empresa: qual é sua vocação, seu serviço aos seus clientes e ao mundo, a expressão única da sua essência? Pense nas empresas que você realmente admira no mercado e note que todas elas são únicas, abriram caminho, fizeram história. Não foram cópias de outras, não se basearam em “benchmarks”, este sim um processo que só leva à mesmice. Elas talvez também tenham se tornado esquisitas a princípio, ousando fazer algo diferente do que todos os competidores estavam fazendo. E neste sentido, elas se tornaram originais.
Albert Einstein já dizia: “Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela”. Qual é a ideia absurda e única que você tem, que desperta a sua paixão pela vida, e que lhe dá um frio na espinha? O que você precisa para se entregar à sua vocação e dar um passo nessa direção? O que o impede de fazer isto agora? Este é um convite à sua esquisitice, à sua forma única e, algumas vezes incompreendida inicialmente, de você se apresentar para a vida. Vamos dar à nossa esquisitice o sentido que os hispânicos dão à palavra exquisito: saboroso, atraente, sedutor, agradável, artístico e belo. A ela damos as boas-vindas!
Mauricio Goldstein é sócio da Corall e escreve para o blog Gestão Fora da Caixa da Exame.