Discutir a relação virou um lugar para falar do outro, e o mesmo se passa com avaliação de desempenho.
Mesmo que a palavra relação signifique algo que acontece entre partes, no caso, entre pessoas, e desempenho remeta a algo que a pessoa faz, não o que a pessoa é, essas duas dinâmicas estão tão contaminadas por uma cultura que se automatizou infelizmente nesse lugar de falar das pessoas e não do que acontece entre elas, que, mais fácil do que resgatar seus significados originais, seria mudar as palavras.
Tenho sugestões.
Ao invés de Discussão de Relação, que tal Discussão de Interação ou Interações? Além de ser sinônimo de relação, interação ainda não foi contaminada pelo padrão da personificação dos problemas e soa como uma palavra mais fria do que relação, o que ajuda a nos distanciar da atração de apontar o dado para o outro.
Ao invés de discutir nossa relação (olha aí a personificação de novo!), vamos discutir como têm sido as nossas interações?
Elas têm funcionado para fortalecer os vínculos entre nós? Para entregar o que nos comprometemos? Para aprender com os erros? Para aprimorar processos? E – por que não? – para nos melhorarmos como pessoas?
Se tudo está funcionando como desejamos, não precisamos fazer nada. Mas se há algo que uma ou mais partes envolvidas consideram que não está funcionando bem, vamos conversar.
Ao invés de uma D.R., quando precisar, você já sabe, proponha uma D.I.
Ao invés de avaliar o desempenho da outra pessoa, que tal convidá-la para um Diálogo Evolutivo Conjunto?
Precisamos assumir que o desempenho nunca é individual, mas sempre é fruto de uma relação, ou melhor, de uma interação. Todo desempenho é, portanto, coletivo.
Então que façamos mais Diálogos Evolutivos Conjuntos para conversar sobre como estamos evoluindo o “nosso” desempenho. Sendo eu uma pessoa que lidera pessoas ou que é colega de trabalho da outra pessoa ou exerço uma função de parceira com a outra pessoa, a responsabilidade por algo que a pessoa entrega ou eu entrego não é só da pessoa ou minha, mas produto da qualidade das interações que se realizam por meio de nossa relação de trabalho.
Nenhum ser vivo evolui sozinho.
A evolução é sempre um processo coletivo.
Como estamos sempre evoluindo, os D.E.C. são um momento para trazer consciência a como estamos evoluindo, para conversar sobre expectativas e necessidades, planos, metas e resultados, aprendizados e aprimoramentos. Tudo isso a partir de um olhar que evita se fixar no outro, para explorar a corresponsabilidade de todas as partes envolvidas.
O resultado é a criação de um espaço onde as partes possam, de fato, avaliar o que e como suas interações estão produzindo, tendo em vista as metas acordadas e de um lugar menos entrincheirado. Afinal, quem gosta de ser avaliado? E, mais uma vez, mesmo que a intenção de uma avaliação de desempenho seja avaliar o trabalho realizado pela pessoa, como tantas vezes ela foi usada para avaliar pessoas – e, possivelmente, ainda siga sendo usada para essa finalidade -, a “fama” derruba facilmente suas boas intenções.
E para evitar que, ao tirar minhocas da cabeça, eu possa colocar outras no lugar, preciso fazer uma distinção entre desempenho e contribuição.
Desempenho é fruto de uma interação, é algo que se produzir coletivamente por um conjunto de partes que, a partir de suas contribuições individuais, atingem um dado resultado.
Isso significa que dá para falar de desempenho no âmbito das interações coletivas e de contribuição como um domínio individual, desde que, tanto em um caso quanto em outro, você não caia na armadilha de mudar as palavras mas conservar a velha dinâmica de apontar o dedo para o outro lado e esperar que os problemas sejam resolvidos sem que você se dê conta que também contribui para que eles existam.