Para que este texto não se torne um mero manifesto, destes compartilhados por pessoas no Facebook acreditando mudar o mundo por essa simples ação, falemos de uma situação concreta e atual. Imagine que uma empresa global brasileira lança um desafio para seus colaboradores, como: “Você que gosta de comunicação e que também está insatisfeito com a forma que a praticamos aqui, nos ajude a fazê-la funcionar”. Por quem esse convite é lançado? Pela própria área de Comunicação. Para quem é o convite? Para quem quiser participar.
Candidatam-se quarenta pessoas de diversas partes do mundo. Candidatam-se para o quê? Para conversar e encontrar novos caminhos para a comunicação funcionar de forma conjunta. E, num encontro que dura apenas oito horas, não geram apenas ideias, mas ações práticas para questões que a área de Comunicação sozinha não conseguia resolver há anos. Milagre? Pode ser. Prefiro chamar esse resultado de consequência natural de um processo colaborativo que promove encontros entre necessidades complexas e múltiplos talentos. E, quando os talentos certos se encontram com as necessidades do mundo, lembrando a célebre frase de Aristóteles, estamos realmente em um bom lugar.
Substitua o desafio de comunicação por segurança. Ou produtividade. Ou inovação. Ou por qualquer área específica em que sua empresa necessite melhorias, especialmente a do tipo aparentemente impossível de se resolver. Envie um convite aberto para os colaboradores. Ou clientes. Ou fornecedores. Ou para quem quer que veja algum benefício na solução de tal desafio. Acredite: alguém irá aparecer para ajudar. As pessoas querem ser protagonistas em alguma coisa. Ficamos séculos encaixando-as em caixinhas construídas em torno de funções, competências, habilidades, cargos, títulos e rótulos que apenas ocultam a multiplicidade de talentos que cada um de nós possui.
E, acredite, muitas dessas pessoas estão prontas para despertar e ocupar seu lugar no mundo. Basta uma oportunidade. E um bom convite. Um convite verdadeiro, honesto, objetivo. “Oi, você! Você que eu ainda não sei quem é, mas sei que está aí esperando uma oportunidade para mostrar que é muito mais do que apenas um operador, apenas um técnico, apenas um gerente, apenas um cliente, apenas um… Eu tenho aqui uma necessidade que parece ter nascido para te encontrar. Vamos juntos nessa aventura?”.
Pelo que me lembro, a primeira vez que tentei fazer isso aconteceu quando ainda era executivo de atendimento em minha própria agência de comunicação e comecei a me perguntar por que não trazíamos nossos clientes para criar com a gente. Além do conhecimento sobre o próprio negócio e, mesmo sem ter formação ou experiência na área, os clientes também liam revistas e livros, assistiam a filmes, peças de teatro, shows, viajavam para lugares interessantes, praticavam eventualmente algum tipo de esporte, enfim, possuíam inúmeras referências que poderiam ser úteis na hora de encontrarmos um novo caminho para os problemas de comunicação de suas empresas.
Claro que daí para eles se sentarem com redatores, diretores de arte e produtores naqueles momentos em que tudo o que se tem é uma questão sem resposta, são outros quinhentos. Em primeiro lugar, porque ao fazer isso seria necessário desafiar a ideia que éramos os únicos que sabiam. Mais do que isso, seria aceitar que nossa troca não acontecia entre o ignorante (o cliente) e o sábio (a agência), mas em nossa capacidade de construir uma solução que realmente trouxesse um benefício percebido pelo cliente. Algo que só acontece no espaço do não saber — se preferir, pode-se usar a palavra ignorância. Só entre dois ou mais que se reconhecem suspensos nesse espaço do ainda não saber, do ainda ignorar, é possível criar algo novo, que de fato surpreenda.
Tio Einstein já dizia para não perder tempo com uma ideia que, à primeira vista, não cause espanto ou, para usar palavras dele, não é um absurdo. Se não é absurdo, pode crer. É uma solução requentada ou uma inovação meramente incremental, algo que já não nos ajuda mais a sobreviver num contexto de tamanha complexidade, onde a colaboração ressurge não mais como opção mas como necessidade básica.
Na Corall, costumamos usar uma expressão que nos ajuda a viver no mundo da complexidade, onde nada é em si e, portanto, nenhuma solução, por melhor que seja, é universal ou muito menos definitiva. Essa expressão é “exceto quando não”. Aplicando-a à esse texto e, em especial, ao título, a colaboração não é mais uma opção, exceto quando não.
Desgostoso da polarização política que tomou conta das redes sociais e das ruas, resolvi fazer um convite aberto para todos os meus contatos escreverem junto comigo essa coluna em torno do tema #MeuSonhoDePaís na esperança de juntar gregos e troianos em uma conversa que nos ajudasse a dialogar de novo em torno de um possível ponto de convergência. Prometi, inclusive, citar os nomes de todos os colaboradores ao final do texto. O que aconteceu? Apenas nove gatos pingados apareceram, fenômeno que eu reputo à constatação de que a colaboração quando forçada não gera nada além de frustração.
Como no Par Perfeito, os perfis podem indicar alto potencial de compatibilidade, mas nem sempre o encontro acontece no momento certo. Por outro lado, mesmo sem parir o texto desejado, para honrar minha promessa aqui estão os nomes desses heroicos colaboradores: Benvinda Franco, Cristobal Gaggero, Cynthia Betti, Daniela De Rogatis, Laura Lima, Luis Alcubierre, Mario Oliveira, Nelson Chapira e Rozalia Del Gaudio. Paciência, amigos e amigas. Vamos continuar procurando. Afinal, somos brasileiros e duros na queda.
Fabio Betti é sócio da Corall e escreve para o blog Gestão Fora da Caixa da Exame.