A Corall Consultoria, em uma iniciativa realizada em parceria com o Insper e o Human System Dynamics Institute (HSD), realizou o workshop “Laboratório de Transformação Social — A Educação e o Ecossistema de Inovação para Transformação Econômica e Social do Brasil”, que teve a facilitação da Dra. Glenda Eoyang e do Dr. Stewart Mennin, membros do Instituto, uma organização dedicada a aplicar a teoria da complexidade na gestão e transformação de grandes sistemas.
O HSD atua em um campo emergente de pesquisa e práticas que aplicam princípios de complexidade, dinâmicas não lineares e a teoria do caos para estudar grupos humanos que vivem e trabalham em equipes, organizações e comunidades.
De acordo com o site do Instituto, “na medida em que as pessoas se reúnem para trabalhar, planejar ou tomar decisões, cada uma delas traz experiências, conhecimentos e necessidades diversas. Estes agentes interagem entre si, resultando em padrões de comportamento que surgem a partir da diversidade de cada grupo. Human systems dynamics é o estudo destes padrões emergentes e o que eles podem ensinar sobre as possibilidades de produtividade em decorrência da ação humana”.
A proposta do workshop, que reuniu vários expoentes do mercado de educação, foi ajudar na reflexão de como podemos transformar o País através da inovação na educação, identificando quais são os padrões que mantém a Nação no estado atual e avaliando possíveis caminhos evolutivos.
Nesta entrevista ao blog da Corall concedida a Artur Tacla, Chief Spiritual Counselor, Dra. Glenda conta como se envolveu com a teoria da complexidade, como a aplicou na prática em sua empresa e a reproduziu nas organizações que se relacionam com o Instituto. Como principal conselho para construir uma trajetória de sucesso, ela não titubeia: “Seja curioso. Com a curiosidade, tudo é possível”.
Confira os principais trechos da entrevista.
Como você se envolveu com a teoria da complexidade? Como entrou na sua vida?
GE — Foi por conta de uma necessidade. Eu estava administrando um negócio e era muito focada em processos. O processo estava sob controle e estávamos obtendo sucesso até que a indústria em que atuávamos se transformou. De repente, nosso processo já não funcionava mais. Nossos clientes estavam insatisfeitos. Não estávamos obtendo retorno do investimento. Não tinha ideia do que estava acontecendo. Decidi tirar umas férias e aproveitei para ler um livro chamado “Chaos: Making a New Science”. Esqueci os problemas completamente e mergulhei na leitura. Li o primeiro capítulo e era sobre ‘butterfly effects’ e enxerguei o conceito no meu negócio. Li o segundo e era sobre ‘boundary conditions’, o que também identifiquei no meu negócio. Cada capítulo me disse algo sobre meu negócio. Então eu tive este incrível ‘ha ha’, voltei das férias, refiz meu plano de negócios e a empresa sobreviveu. Decidi começar a estudar, escrever e ler. Era 1986 e desde então tenho me aprofundado.
“A empresa tem uma infraestrutura que foi concebida para um determinado tamanho e agora precisa avançar neste limite. Como fazer isso sem comprometer padrões convencionais da organização?”
Como você se aproximou do campo da complexidade? Como aplicou no seu próprio trabalho? Você é muito prática e desenvolveu ferramentas muito simples, mas muitos campos da complexidade são teóricos. Como colocou em prática?
GE — Acho que algumas forças me encorajaram. A primeira é que sou uma profissional muito prática. Eu queria ver os efeitos práticos do que eu estava aprendendo. A segunda foi a frustração que tive com outras pessoas no trabalho. Quando terminei de ler o livro estava muito motivada e ao concluir a última página me perguntei: “e agora?”. Me pareceu que na minha própria prática eu já estava tomando ações que iam ao encontro da complexidade. Eu podia ver esta prática. De certa maneira era muito mais ir da prática para teoria do que da teoria para prática. Estabeleci várias etapas no trabalho. O primeiro foi o desenvolvimento de ferramentas baseadas nas teorias. A partir daí construí minha pesquisa de doutorado e um trabalho com diversos modelos e métodos. Tem sido um processo realmente evolucionário que se torna mais simples e profundo a cada estágio.
Neste momento qual é a pergunta que não quer calar que você tem mais respondido? Quais são os desafios que você está enfrentando que te deixa curiosa e te acorda no meio da noite?
GE — Uma é prática. No Instituto alcançamos aquele tipo de complexidade que é muito comum em organizações do nosso tamanho. A empresa tem uma infraestrutura que foi concebida para um determinado tamanho e agora precisa avançar neste limite. Como fazer isso sem comprometer padrões convencionais da organização? Como nos organizarmos para crescer e nos mantermos fiéis aos nossos padrões?
É a primeira vez que vivemos uma civilização global. Estamos interconectados globalmente e isso é extremamente novo. Como você avalia e mensura os impactos que esta realidade irá gerar no futuro próximo?
Vejo tensão em cada organização e cidade que visito. Uma amiga teve que se mudar de Washington DC porque sentia que era muito tenso para ela suportar; ela disse que era como uma tensão pré-guerra. Estamos inundados com informação e estamos confusos. Há muito ruído. Não temos a habilidade de separar ruído de sinal. Há um tipo de confusão mental. E também acredito que haja toxinas que estão se acumulando no planeta. O trabalho que fazemos com trauma expõe tudo — o trauma físico, emocional e as toxinas que se apresentam na forma como as pessoas pensam. Trauma será o impacto.
“Quando uma tensão em um sistema é tão grande há uma mudança estrutural.”
Neste contexto não seria um paradoxo sermos um planeta único, uma grande comunidade humana, mas um novo padrão pode vir a surgir de uma comunidade pequena que nos afetará como um todo? Nos mudamos para grandes cidades urbanas, há mais pessoas nas cidades do que no campo e agora há uma tendência de criar pequenas comunidades. Faz sentido?
GE — Faz sentido que irão ocorrer algumas grandes mudanças estruturais. Quando uma tensão em um sistema é tão grande há uma mudança estrutural. Não consigo imaginar que esta tensão pode continuar para sempre e crescer. Não sei o que há do outro lado da avalanche. Imagino que surgirão comunidades com vizinhos mais próximos que irão sustentar uns aos outros e crescer juntos localmente. Espero que isso aconteça.
Uma última pergunta: qual conselho daria a partir da sua experiência?
GE — Acho que curiosidade. Porque com curiosidade tudo mais é possível. E sem, nada é possível.