Com a disciplina de quem decidiu compartilhar com o mundo o que aprendeu na confiança de que isso gera mais abundância para todos, agora é a vez de mergulhar em mais dois ingredientes do trabalho que desenvolvemos junto às organizações para ampliação de consciência e liberação de potência, sempre objetivando o sucesso no mundo emergente, que, para nós da Corall, é caracterizado pela prosperidade compartilhada, felicidade e bem estar para todos os stakeholders e a corresponsabilidade pela vitalidade do planeta.
No primeiro artigo sobre a abordagem da Corall em projetos de transformação, me atribui o desafio de explicar o porquê dizem que “tocamos o intangível”.
Abordei dois aspectos essenciais por trás do nosso trabalho: o foco na INTERAÇÃO entre as pessoas e não nas pessoas; e a INTEGRAÇÃO como caminho para reduzir a dualidade e aproveitar as diferenças, ampliando as perspectivas e, portanto, as possibilidades de ação na complexidade.
Agora vou trazer mais dois aspectos, estes ainda mais interligados que os dois primeiros, por isso eles serão apresentados conjuntamente.
CONEXÃO e IDENTIFICAÇÃO
Só é possível ajudar alguém quando experimentamos um lugar de não separação.
Se eu julgo a outra pessoa como ignorante, resistente à mudança, de baixa consciência ou qualquer coisa que o valha, não tenho como ajudá-la.
Se acredito que sou superior ou inferior a outra pessoa, não temos como construir algo novo e potente juntos, porque simplesmente não estamos juntos.
Por isso é tão difícil inovar em um modelo de gestão hierárquico.
Hierarquia pressupõe subordinação a algo que está acima, que veio primeiro, que é mais importante.
Uma dinâmica que estimula comportamentos de obediência a uma dada autoridade.
Para inovar, é preciso desobedecer a ordem estabelecida, trair a tradição, assumir sua própria autoridade sobre determinado assunto e falar desde esse lugar de empoderamento.
Um processo de transformação é, como todo movimento evolutivo, um processo de inovação.
É preciso que se construa e se sustente um espaço entre iguais no sentido de que todas as pessoas são igualmente livres para expressar o que sentem e pensam.
Todas as diferenças são igualmente bem-vindas.
É preciso explorar o máximo de perspectivas possíveis para que, com um olhar mais ampliado sobre o que nos atravessa, possamos escolher caminhos inteligentes e novos para lidar com nossos desafios e incertezas comuns.
Precisamos, paradoxalmente, encurtar nossas diferenças para permitir que nossas diferenças apareçam.
Se eu me identifico com a outra pessoa, se a percebo em mim, deixo de julgá-la e me desloco de um lugar onde estamos separados para um lugar onde estamos juntos.
Deste lugar eu posso falar coisas que, antes eu não podia. Posso trazer uma visão de mundo diferente, posso propor novos caminhos e ideias. Porque já não estou mais num lugar de juiz, mas em um lugar de colega, parceiro, companheiro, de eu sei o que você está sentindo porque eu também sinto isso em mim. Apenas manifesto de maneira diferente
Durante um certo tempo, fiz terapia com um psicólogo reichiano que, de tempos em tempos, me convidava para um estranho, mas poderoso exercício de visualização.
“Imagine que você está em um cemitério.
Imagine toda sorte de criminosos que estão lá também.
Estão todos enterrados no mesmo cemitério, uma cova bem próxima da outra.
Agora diga em voz alta: Eu sou um de vocês!”
Nas primeiras vezes, eu simplesmente abria os olhos e disparava: Como assim? Sou igual a eles?
Eu me recusava a me deitar ao lado de assassinos, pedófilos e estupradores, quanto mais me colocar em pé de igualdade com eles.
Com o tempo, fui percebendo que, apesar de eu não ter cometido qualquer dos crimes que eles cometeram, não éramos assim tão diferentes.
Éramos, no mínimo, todos seres humanos, com uma gama imensa, porém semelhante de emoções, sentimentos e desejos nem sempre, digamos, republicanos.
O que me diferencia, por exemplo, do casal Nardoni, condenado por ter matado a própria filha? Eu já não tive vontade de esganar meus filhos? Eles que não saibam, mas a resposta é sim, já tive essa vontade. E por que eu não levei essa vontade a cabo? Porque na hora que veio a raiva, a vontade de fazer isso, eu fui capaz de brecar esse fluxo de raiva e fazer uma escolha diferente. Fui capaz de equacionar minimamente minhas emoções para poder refletir. Pude me tornar consciente sobre a raiva que estava vindo e o que eu deveria fazer com ela.
Como é que eu dou espaço a essa raiva sem me arrepender depois? Sem que ela me destrua.
Tirando esse pequeno detalhe, não somos assim tão diferentes.
Perceber-se nesse lugar de conexão e identificação com a multiplicidade do que é humano, incluindo tudo o que há de bom e de pior, é essencial para experimentarmos o superpoder de visão ampliada sobre o mundo em que vivemos e que construímos e reconstruímos com nosso viver.
O trabalho de quem se propõe a ajudar uma pessoa ou um grupo de pessoas a evoluir pressupõe aceitar esse lugar de conexão e identificação profunda.
Saber-se emaranhado com a história da outra pessoa nos permite acessar a consciência sobre os impactos em nós mesmos de também ser a outra pessoa.
E, a partir desse lugar, experimentar escolhas diferentes para lidar com a questão que aflige a outra pessoa e aflige você.
Conexão e identificação constituem-se assim uma poderosa estratégia para acessar informações e tomar decisões de um lugar de maior consciência sistêmica.
Você talvez esteja se perguntando: Por que eu já não disse tudo isso no primeiro texto?
Cheguei até a afirmar que os ingredientes de nosso molho secreto eram interação e integração (e mais nada!).
Não foi de propósito. Nem foi preguiça.
Na verdade, penso que o processo de escrita é um processo de organização de suas ideias, de seu interior.
Venho praticando isso desde que me reconheço como escritor, lá pelos 12, 13 anos de idade.
Sempre usei o ato de escrever para organizar aquilo que estava dentro de mim.
Na hora que esse texto é vomitado, vai para o mundo, e releio o texto e, portanto, me releio, sempre descubro coisas novas.
Costumo explicar essa lógica por meio de uma metáfora em torno de uma caminhada por uma praça.
A cada volta que você dá na praça, você descobre algo que, na volta anterior, não era capaz de ver. Além do que, a cada volta, você já não é mais o mesmo, nem a praça é a mesma praça.
Você já tem mais informação do que tinha antes e observa coisas que antes não conseguia observar nem perceber.
Você dá uma primeira volta na praça e registra algumas observações do que é capaz de observar.
Se você der uma segunda volta na praça, você já traz na mochila algumas informações que capturou sobre aquela praça, ou seja, algum conhecimento prévio, e você também começa a observar coisas que não observava antes.
Na primeira volta, você observa um sorveteiro, determinadas árvores, um cachorro latindo.
Na outra, você observa um casal conversando e se pergunta se esse casal estava ou não ali na primeira volta, porque você não foi capaz de reparar nele. Você vê uma pessoa idosa caminhando, escuta o som de pássaros, entre outros fenômenos que não foi capaz de capturar antes.
Talvez tudo isso já estivesse ali, mas como você não registrou, para você essas coisas simplesmente não existiam. Elas se tornam presentes quando você as observa.
E foi isso o que aconteceu com o texto.
Escrevi o texto a partir de uma volta que dei na praça.
Apenas trouxe o que observei nessa primeira volta.
E numa segunda volta consegui perceber coisas novas. Seja porque quem me leu acabou contribuindo com perspectivas que eu não fui capaz de ver sozinho, seja porque eu mesmo, desde um lugar onde também eu era uma outra pessoa a observar essa praça que também não era a mesma praça, pude observar outras coisas que me passaram despercebidas ou que apareceram na nova volta.
A metáfora das voltas na praça é o processo do conhecer ou aprender.
E é o que temos procurado fazer aqui nesse espaço.
Contra a lógica das redes sociais.
A favor de nossa própria lógica de seres humanos que escolhem se conectar e se identificar de maneira tal que possamos aprender uns com os outros e se transformar a partir desse corajoso e fertilíssimo convívio.
* Mais uma vez, alerto que este não é um texto institucional e, portanto, não reflete necessariamente a visão da Corall ou de seus sócios e sócias, mas se você resolver perguntar a um de nossos clientes, ele ou ela provavelmente irá confirmar o que escrevi aqui ou simplesmente disparar um “eles são capazes de tocar o intangível”.