Conhecimento não compartilhado é latifúndio improdutivo
Por Tatiana Maia Lins
Uma vez Deus fez uma ironia com a minha pessoa, tão impaciente. Mandou para trabalhar comigo uma moça muito, mas muito verde. Daquelas que não têm a menor noção do que deve fazer e de como fazer. Eu tinha duas opções: fugir do desafio e não aceitá-la na minha equipe, por achar que daria muito trabalho treiná-la e que me custaria muito tempo e dinheiro. Ou dar um voto de confiança e, com boa vontade, ir ensinando-a aos pouquinhos o que fazer e como fazer. Fiquei com a segunda opção. Treinar esta moça passou a ser um desafio pessoal.
Esta experiência me fez refletir sobre vários aspectos. A Teoria da Comunicação, quando ainda dividia o processo em “emissor e receptor”, dizia que se o receptor não compreendesse a mensagem a “culpa” era do emissor, que não se adaptou à realidade dele. Belo exercício de humildade. Quantas vezes por dia achamos que estamos comunicando alguma coisa quando, na verdade, nossos “receptores” não estão recebendo as nossas mensagens?
Quantas vezes por dia tratamos o conhecimento como um latifúndio improdutivo? Vamos guardando o que sabemos em algum lugar da nossa memória, mas não compartilhamos com ninguém, não fazemos uso do conhecimento, não o colocamos para produzir e gerar renda? Conhecimento não compartilhado é sim um latifúndio improdutivo. Um belo pedaço de terra que não gera riqueza, que não cumpre a sua função social.
Garantir que não existam latifúndios improdutivos dentro das empresas deveria também ser visto como uma ação de Sustentabilidade. Compartilhar conhecimento de modo eficaz com a realidade de todos os “receptores das mensagens” — perdoem-me o termo tão antiquado — empodera as pessoas que antes estavam à margem do conhecimento e as eleva ao patamar de protagonistas de possíveis mudanças. Faz com que indivíduos que antes não sabiam o que fazer nem como fazer, passem a dar sugestões de melhorias de processos e sejam responsáveis por inovação.
Sendo assim, vamos comunicar os nossos exemplos positivos, nossos erros e acertos. Vamos cuidar mais do nosso capital humano para que ele seja referência e contribua positivamente.
Vamos compartilhar o nosso conhecimento com mais e mais pessoas e aprender com as experiências delas. Vamos fomentar projetos corporativos de Educomunicação. Esta também é uma forma de desenvolver o país por meio da Comunicação. Pois, como disse Albert Einstein, “uma mente que se expande jamais retorna ao seu estado original”.
Artigo originalmente publicado no site da Aberje. Tatiana Lins é consultora em Reputação Corporativa, fundadora da Makemake, empresa com foco em Reputação Corporativa, Planejamento de Comunicação, Engajamento de Stakeholders, Edição de Conteúdo e Reporte de Sustentabilidade.