Perguntas do tipo, “como controlar o estresse” tem sido cada vez mais comuns para o grande buscador de respostas, o Google. É claro que, como ferramenta inteligente que é, ele encontra infinitas respostas e fórmulas de como controlar o estresse. Mas hoje a reflexão que faço é um pouco diferente: Como modular a velocidade de controle do estresse?
Com foco sobre a possibilidade de escolher o tempo e a velocidade com que se deseja lidar com uma crise de estresse, sugiro pensar em dois temas que são indissociáveis, já que um só existe em função da existência do outro, que é a nossa relação com o tempo e com algo que se chama resultado. Afinal, hoje em dia, misturamos nossa percepção de tempo com a ideia de resultado. Por isso mesmo estes dois temas estão sempre no centro da atenção no dia a dia da nossa sociedade.
Como terapeuta, atendo essencialmente com processos breves. De certa forma, rápidos. Mas, na posição de paciente, passei por um processo que levou 22 anos. Metade da minha vida no momento que se encerrou. Metade da minha vida! Faz sentido que quando me entendo em uma crise, tenho uma expectativa de resultado associada ao tempo. Quero sair da crise o quanto antes. Quanto mais severos os efeitos da crise, maior a expectativa de sair dela rápido.
Em resumo, faz sentido que eu tenha pressa em sair de uma situação de estresse acentuado, que tenha gerado uma condição aguda em mim, de angústia e até de sintomas físicos.
Agora, o estresse está presente por bastante tempo antes de chegar a uma situação mais intensa de crise, e ao lidar com esta situação frequente, onde o estresse é carregado por muito tempo como parte da rotina, seria bom se pudéssemos abrir mão da pressa, e até mesmo da expectativa de resultado. Pois estes são dois dos elementos mais comumente ligados às causas do estresse.
Estresse: Crise e origem
Para entender melhor, podemos traçar um paralelo com um lugar que pegou fogo e onde é preciso ter duas atitudes: a primeira, e mais urgente, é apagar o incêndio, ou seja, sair da crise, senão tudo será consumido; e a segunda é entender o que desencadeou aquele fogo. Não fazer essa reflexão quando as chamas foram apagadas é perder a oportunidade de encontrar causas mais profundas para o problema, e de certa forma o caminho para sua cura. Passar por esse processo de aprofundamento é uma escolha. É preciso querer ser o tipo de pessoa que “apaga o incêndio” e que, depois, reflete sobre por que “pegou fogo”. Pois de fato há quem prefira agir apenas na crise, ou crises, no plural, porque a falta de cuidado pode torná-las frequentes.
Tenho me debruçado nos últimos anos na questão da bravura e da braveza. De maneira muito resumida podemos pensar que bravura é ter coragem de mergulhar no meu ser, onde pode haver fraqueza, trauma, fantasmas e dor. Encontros necessários para me embrenhar no processo de cura, que ainda passa por rever crenças e correr o risco de enxergar que muitas delas não fazem o menor sentido. E que será preciso mudar. Quem não está disposto a dar esse mergulho em si mesmo tende a seguir pelo caminho da braveza, um lugar onde se projeta a culpa nos outros e que pode culminar nesta série de doenças que vemos com cada vez mais frequência na sociedade. Burnout é uma delas.
Bravura é se despir para si mesmo, o que explica porque, à primeira vista, pode ser mais simples ir para o campo da braveza. Mas é preciso entender que xingar e gritar não são sinais de força, mas de fraqueza, e braveza. Claro que ninguém é forte, ou tem bravura o tempo todo. Mas tentar se manter nesse caminho é o trajeto para a cura, especialmente nesta atual sociedade que se identifica tanto com a braveza, onde conflitos e pensamentos diferentes vem sendo resolvidos no grito, na violência, no cancelamento, na oposição. O caminho do verdadeiro guerreiro é lidar com suas questões para se ver livre da necessidade do combate. Porque o desafio não é ganhar a briga, mas evitá-la.
Por que explodimos, partimos para a luta, literalmente?
Nos momentos de surto, de agressão, o que acontece é uma explosão. O espaço interno não é suficiente para processar todo aquele volume de sentimentos que surgiu naquele momento. Eu agrido o outro, mas ele não é a causa total do problema, mesmo que faça parte às vezes. Para lidar melhor com o próprio estresse é preciso ter a bravura, a disposição e até a dedicação de tempo para explorarmos a nós mesmos, e ampliarmos nossos espaços internos. Comumente ocupados com questões com as quais escolhemos não lidar profundamente. Se você tem mais espaço interno viverá menos as situações de explosão. E mesmo se escolher a batalha, fará isso de um lugar mais centrado. Estamos num momento que é preciso ter bravura, mesmo que as ameaças diárias, que envolvem medo, angústia e incerteza, nos convidem a agir na braveza.
A bravura é mais difícil, mas ela é libertadora. Gera cura, saúde, crescimento e ampliação. Quando entendo minha responsabilidade em algo tenho mais poder de mudar a situação do que se eu me colocar como vítima e culpabilizar o outro. Temos hoje o direito e o dever de encontrar soluções melhores para os desafios que criamos, numa sociedade extremamente complexa. A reação biológica, que envolve o reflexo da luta e da fuga, não pode ser mais aceita como única alternativa de reação. Temos o dever de desafiar esse estado mais primitivo e desenvolver mecanismos para ir além dele na hora de reagir. E para isso é importante ter muito claro na sua mente que você não está sozinho. Assuma que existe o medo, não tente fugir dele, e peça ajuda porque há toda uma rede de apoio para te auxiliar a mergulhar na sua bravura.
Individualmente e, também, como parte da sociedade, temos o desafio de evitar a braveza porque ela é destrutiva para nós mesmos e para o mundo, e está efetivamente destruindo nossa própria condição de existir com qualidade.
Estamos buscando frames inclusive que ajudem organizações, e as pessoas dentro delas, a criarem mais recursos de reação, podendo assumir uma papel significativo no surgimento deste formato menos violento de ação e reação.
Desenhamos um frame potente que chamamos de AGORA. Sim, este nome tem a ver com uma certa urgência para sairmos da crise. Mas ao mesmo tempo diz respeito ao fato de que tudo está presente neste momento. As coisas não precisam ser feitas sempre na expectativa de um resultado futuro. O fazer em, agora, é a própria transformação. O desafio é estar inteiro aqui e agora, e aceitar o convite à bravura de olhar para onde não estamos olhando, e ousar ver o que ainda não vimos. A partir daí, há um universo inteiro a ser explorado num novo formato de fazer. Este novo fazer carrega toda a potência que não está hoje atuando a favor das pessoas e das organizações. O caminho já está aí, AGORA.