Fazemos isso o tempo todo. Frente a um anseio, somado a algumas limitações, buscamos alternativas, expandimos possibilidades, ordenamos, significamos e damos forma. Pronto: criamos! E as capacidades envolvidas no processo são menos de ordem artística. Precisamos da capacidade de compreender, sintetizar e relacionar.
Portanto, ao revisitar nossos movimentos cotidianos, podemos perceber a criatividade acontecendo. Às vezes, a criação pode não parecer intencional, ou seja, não necessariamente pode existir uma consciência presente, mas implica numa intencionalidade, mesmo implícita de ordenar, de dar forma, relacionando e organizando estímulos interiores e percepções exteriores. Criar é estar vivo e, para tal, é preciso estar presente e atento a vida.
No trabalho, também fazemos isso o tempo todo, principalmente ao buscarmos integrar estímulos internos e externos. Os desafios e recursos profissionais e os pessoais, assim como todo o resto, podem entrar no jogo. Neste sentido, esse ambiente pode ser um grande laboratório de aprendizagem para o indivíduo. A inclusão dos vários aspectos da vida, na construção de movimentos criativos enriquece as experiências, trazendo novas possibilidades.
Assim, a inovação é necessária para a sustentação dos negócios, sendo parte deste movimento criativo, que conceitualmente aconteceria sem esforço. Mas, nesta perspectiva, temos uma das várias possibilidades para compreender o baixo índice de engajamento das pessoas no trabalho. Quando elas parecem desligadas e funcionando no automático, é possível que se apresentem certas situações, como a ausência de conversa com os desafios neste ambiente e a necessidade de criar, tão inerente ao ser humano. Se esse ambiente se torna árido, seja por não desafiar, seja por desafiar demais, a apatia toma o lugar da vida.
Afinal, todos nós precisamos de significado. Nossos movimentos dependem de como as coisas fazem ou não sentido em nossa experiência interna. Quando estamos numa situação de medo ou ansiedade, nossa atenção se direciona para a sobrevivência, que é justamente a manutenção da vida, e não da criação. Entretanto, eis que se apresenta um dilema interessante: se para viver precisamos criar, quando passamos muito tempo no estado de manutenção, acabamos por nos tornar apáticos.
Vimos muitas tentativas de trazer as pessoas para o jogo, quando por exemplo, construímos missão, visão e valores. Hoje, já avançamos para a discussão de propósito. Ou seja, vamos melhorando nossa própria compreensão. Entretanto, acredito que podemos nos mover ainda mais. É preciso se perguntar: Como minha necessidade e capacidade de criar conversa com o meu trabalho? Como posso ampliar este diálogo sistêmico entre o indivíduo e o sistema? Como ajudar a alma a estar presente?
Temos que nos relacionar minimamente com a proposta desafiadora para que tenhamos algum interesse em ordenar e dar forma, em comparecer e criar. Não precisa de muito, pois o anseio por criar não precisa ser instalado. Precisa apenas ser cultivado por ambientes seguros, nutridores e convidativos a expansão da vida. Por isso, aceite esse convite da vida!
Angelica Moretti é sócia consultora da Corall e escreve para o blog Gestão Fora da Caixa da Exame.