Neste artigo vou explorar o seguinte tema: cultura de feedback e diálogos colaborativos. Mas, antes, é preciso falar sobre feedback em si.
Quero começar com uma simples pergunta: Qual a primeira coisa que você sente quando uma pessoa te diz: “Posso te dar um feedback?”
Dependendo da sua experiência, você poderá sentir frio na barriga, vontade de fugir ou encarará como uma conversa natural, necessária para o seu desenvolvimento profissional e, também, pessoal.
O fato é que a menção de um feedback muitas vezes evoca uma variedade de reações. Enquanto alguns podem vê-lo como uma oportunidade para desenvolvimento pessoal e profissional, outros podem encarar com apreensão.
No entanto, é fundamental que o feedback seja percebido como uma conversa dinâmica e construtiva, capaz de moldar o desenvolvimento mútuo e abrir portas para novas perspectivas e crescimento.
Mas por que nem sempre isso acontece? Te convido a continuar a leitura.
Desafios dos modelos tradicionais de uma cultura de feedback
Em muitas organizações, o processo de cultura de feedback está intrinsecamente ligado à Avaliação de Desempenho e, consequentemente, a um sistema de recompensas, o que pode resultar em avaliações enviesadas. Por exemplo, consideremos um cenário em que um líder hesita em fornecer feedback honesto por receio de impactar negativamente a trajetória profissional de um colega. Essa abordagem resulta em uma perda dupla: o indivíduo perde a oportunidade de crescer, e a organização mantém dinâmicas ineficientes.
Feedbacks enviesados
Para continuar o raciocínio, vamos partir para um exemplo fictício a seguir.
João sabe que a promoção da Ana, que acabou de ter um filho, depende de seu feedback formal, João tem uma série de fatos e dados que potencialmente ajudariam Ana, mas ele não falará ou escreverá porque isso pode ser interpretado como erros que poderão prejudicar Ana.
João decidiu ser o mais polido possível e ocultou o que, lá no fundo do seu coração, deveria ser dito.
Resultado: Ana ficou sem a informação que poderia melhorar seu desenvolvimento, João guardou para si o conteúdo observado durante o ciclo com a Ana e a organização como consequência conservou uma dinâmica artificial.
Neste exemplo temos pelo menos dois grandes desafios:
- A artificialidade do feedback formal, como uma ferramenta que não gera resultados que evoluem a organização e desenvolve as pessoas para mais colaboração.
- A Ana e o João não possuem um espaço para que as conversas que realmente importam aconteçam e ambos cresçam a partir de um diálogo poderoso, que sustenta os desafios de um trabalho em time.
Acredito que você, lendo esse caso, se recorde de inúmeros exemplos da disfuncionalidade dos modelos de Feedback e Avaliações na sua Jornada como Colaborador(a).
E claro, que outros fatores poderão entrar neste jogo inconsciente, tais como:
- Falta de confiança na relação entre as pessoas do time.
- Falta de segurança psicológica para abordar temas que levarão a conversas difíceis.
- Falta de Cultura de Conversas Colaborativas que levarão para o desenvolvimento mútuo.
Superando o viés e promovendo conversas colaborativas para fortalecer a cultura de feedback
É essencial adotar uma abordagem mais colaborativa e orgânica para fortalecer a cultura de feedback. É aqui que a cultura organizacional desempenha um papel fundamental.
Listamos algumas práticas para inspirar o fortalecimento de uma cultura de feedback orientada para o desenvolvimento das pessoas por meio de conversas francas e colaborativas, confira:
1. Feedback contínuo e integrado
Em vez de restringir o feedback a avaliações formais periódicas, as empresas podem incentivar um fluxo constante de comunicação. Isso inclui reuniões regulares de feedback, em que os membros do time podem discutir abertamente o progresso, os desafios e as realizações.
2. Fortalecimento de uma cultura de confiança e abertura
Criar um ambiente onde os colaboradores se sintam seguros para expressar suas opiniões e preocupações sem medo de represálias. Isso envolve o desenvolvimento de uma cultura de respeito mútuo e empatia.
3. Workshops de comunicação assertiva e empática
Oferecer espaços para desenvolver a comunicação assertiva e empática para os membros dos times para que possam dar e receber feedback de maneira construtiva e eficaz.
4. Promover a autonomia e o empoderamento das pessoas
Encorajar os colaboradores a serem curiosos e buscarem informações sobre o próprio desempenho para o desenvolvimento de suas habilidades e carreiras.
5. Feedback baseado em comportamentos e resultados concretos
Prática de redução do julgamento e declaração de fenômenos observados para que o feedback seja específico, baseado em comportamentos observáveis e resultados medíveis, e não em julgamentos e achismos.
6. Incorporar ferramentas e tecnologias de feedback
Utilizar ferramentas e plataformas digitais que facilitam o feedback contínuo permitindo uma coleta de dados mais objetiva e análise de tendências.
7. Incentivar a reflexão pessoal e o desenvolvimento profissional
Estimular os colaboradores a refletirem e processarem o feedback recebido e a utilizá-lo para o desenvolvimento integral.
8. Celebração de sucessos e aprendizados
Reconhecer e celebrar as realizações, bem como tratar os erros como oportunidades de aprendizado, em vez de motivos para punição.
Vamos seguir do nosso exemplo fictício a seguir.
Ana concluiu um projeto que demorou 3 meses para ser implementado e, no final dele, ela gostaria de saber se “mandou bem”, o que poderia ter sido diferente e melhor e que dicas as pessoas poderiam dar para ela se preparar para o próximo projeto.
O que a Ana poderia fazer?
- Lamentar, porque ela gostaria disso, mas precisará aguardar o próximo ciclo formal de feedback e avaliação.
- Agir, sugerir e implementar um ritual de retrospectiva com o time.
- Agir, abrir um mapeamento com perguntas simples para todas as pessoas que atuaram com a Ana no projeto.
- Agir, convidar as pessoas que participaram do projeto com ela para conversas do tipo 1:1.
Os itens 2, 3 e 4 tem o potencial de empoderar a Ana para ser protagonista do seu próprio desenvolvimento, tornando-a corresponsável pela realidade que ela está criando na organização.
Com esse empoderamento e autonomia, Ana consegue ativar a rede de conversas colaborativas que constituem uma organização.
A Importância da cultura de feedback e conversas colaborativas
Acreditamos que a natureza humana é colaborativa e ativar essa rede de maneira orgânica traria um grande benefício para a cultura de feedback. Uma cultura de conversas colaborativas desempenha um papel crucial no fortalecimento de lideranças e times.
Ao incentivar um ambiente onde o feedback é visto como um meio para crescimento e aprendizado mútuos, as organizações podem cultivar um espaço de trabalho mais dinâmico, criativo e adaptável.
Esta abordagem descentraliza o desenvolvimento humano, distribuindo-o por toda a organização, em vez de concentrá-lo apenas nas mãos de gestores e do departamento de RH.
O que achou?
Você quer conversar mais sobre esse tema e compartilhar os desafios da sua empresa?
Até breve.