Um dos investimentos mais pobres e sem retorno do mercado, mas que mesmo assim ainda movimenta muito (muito, muito) dinheiro são os ditos projetos de cultura onde o único objetivo é definir um book (ou um power point) de cultura com uma lista de valores ou competências, para depois tentar evangelizar (dizem, preparar) as pessoas com treinamentos e conversas, para depois incluir isso numa avaliação de desempenho para mapear e controlar as pessoas que estão mais ou menos coerentes, para depois definir quem continua ou não na empresa, para depois…
para depois continuar tudo exatamente como estava antes.
Isso não muda cultura. É jogar dinheiro fora!
Basta olhar com atenção e cuidado. Depois de um processo como esse, pode até existir a sensação de que algo mudou, mas apesar de novas nomeclaturas, novas cores e materiais, tudo continua igual, nada mudou na essência da cultura organizacional.
A organização mantém a mesma identidade e a mesma percepção de seu papel na sociedade. As estruturas de poder continuam as mesmas. O que gera a atenção (aquilo que faz tudo parar para ser resolvido) é o mesmo tema (ou o mesmo medo). O que realmente importa e move a organização é a mesma coisa revelado pelo mesmo indicador. A consciência é a mesma (de ser uma estrutura independente e autossuficiente para ditar o que vai fazer e pra quem, ignorando os contextos e interdependências).
Quando efetivamente há um trabalho de cultura e uma evolução cultural, a organização já não consegue mais perceber-se, perceber seus colaboradores, perceber o mercado e perceber o mundo da mesma maneira. Há um deslocamento cognitivo e identitário. Há um deslocamento nos padrões de relações e interações com todos os stakeholders. Há um deslocamento da consciência e do que é percebido. E, por causa disso, um movimento adaptativo em todo o seu entorno.
E, tudo isso, acontece sem precisar de power point, book de cultura, lista de competências, avaliação de desempenho, mudança na marca.
Não quer dizer que isso não possa ser feito, mas a mudança não acontece por conta disso.
Aliás, seria até bacana ter um book de cultura, um livro mesmo, depois ou ao longo da jornada, contando as diversas histórias dela, uma coisa interessante contendo as descobertas, os sentimentos e as experiências vividas depois de elas acontecerem. Os medos vividos, as histórias de bravura em lidar com o desconhecido. Um relato de onde a empresa chegou e por onde ela caminhou.
Hoje em dia, qualquer empresa ou consultoria diz trabalhar com cultura e promover evolução cultural. O difícil mesmo é encontrar quem realmente faça e trabalhe com isso.