“A maior parte da humanidade não trabalha. Serve ao trabalho de outros como instrumento.” (Vilém Fusser)
“Não se torne um escravo de sua existência. Dê à sua existência uma vida, então você terá uma existência mais saudável. “ (Manis Friedman)
Essa semana começou com o Dia do Trabalho. E, mais uma vez, estamos acordando na segunda-feira de manhã com a agenda cheia de coisas para fazer. Muito trabalho! Passaremos, pelo menos, os próximos cinco dias quase que completamente dedicados, focados, interessados, estressados, revoltados, realizados ou perdidos com uma série de desafios e questões complexas que já apareceram e ainda vão aparecer.
Trabalhamos muito! Dedicamos grande parte de nossa existência a essa atividade. E eu me faço a pergunta óbvia: se dedico grande parte da minha existência ao trabalho, essa dedicação tem contribuído para eu ter uma vida que valha a pena?
Tenho certeza que, como eu, você se faz essa pergunta de tempos em tempos. E, posso supor também, que, como eu, você não acha muito saudável ficar pensando muito sobre ela… Mas, eu gostaria de compartilhar duas ideias que surgiram quando li e ouvi duas pessoas que me ajudaram a lidar melhor com essa indagação. Espero que elas possam fazer sentido para você.
“A maior parte da humanidade não trabalha”
Fiquei extremamente incomodado e inquieto quando me deparei com o artigo “Para Além das Máquinas” , de Vilém Fusser. Justamente porque a provocação que ele fazia cabia perfeitamente com a situação em que eu vivia há alguns anos. A sensação de que eu trabalhava muito, mas ao mesmo tempo não havia um trabalho realmente interessante, que valia a pena, sendo feito por mim.
Na perspectiva dele, para dizer que eu realmente estava realizando um trabalho significativo, era necessário misturar ou olhar como interconectados três aspectos do trabalho: como o mundo é, como deveria ser e de que maneira transformá-lo. Ou seja, um trabalho de verdade consiste em supor que o mundo não é como deveria ser e que é sim possível mudá-lo.
Nessa perspectiva, ele provoca: “A maior parte da humanidade não trabalha. Serve ao trabalho de outros como instrumento. Em seu estranhamento não quer saber nem como é o mundo nem como deve ser, e nem sequer lhe ocorre a ideia de que se podia mudar o mundo. Essa humanidade só participa da história de forma passiva: a sofre.”
Essa provocação me atingiu em cheio. Não queria, de maneira nenhuma, fazer parte da humanidade que só participa da história passivamente. Agora, como eu poderia sair desse lugar passivo e ser protagonista de um trabalho que me fizesse não somente existir, mas viver a vida?
“Quando as pessoas têm uma vida, que estão dispostas a morrer por ela, então a existência delas têm um propósito”
O filósofo e rabino Manis Friedman fala em um vídeo sobre o segredo pelo qual o povo judeu continua existindo, enquanto outros povos muito mais poderosos e com muito mais recursos deixaram de existir.
Ele coloca a ideia de que existe uma diferença entre existir e viver. Você simplesmente pode se dedicar a satisfazer as necessidades para se manter existindo, com mais ou menos conforto. Mas, quando sua existência é arrebatada por algo tão interessante e relevante, que te levaria a morrer por isso, você dá a sua existência uma vida. Ou seja, sua existência ganha um propósito, um “para que”.
Diferentemente da ideia anterior, essa me trouxe um caminho e me ajudou a viabilizar o movimento para sair da passividade. Me dedicar ao propósito poderia me colocar em um lugar onde eu poderia trabalhar. E, com isso, supor que o mundo pode ser diferente e que é possível transformá-lo e que eu posso ser diferente e que é possível me transformar, não sendo mero instrumento passivo do trabalho dos outros.
Nessa nova semana de trabalho, desejo que você se incomode, se inquiete, se mova e se dedique a dar para a sua existência uma vida! E que, nos mais diversos tipos de trabalho pelos quais você se dedica, você consiga encontrar o seu “para que”!
Alessandro Gruber é sócio consultor da Corall e escreve para o blog Gestão Fora da Caixa da Exame.