Nós já estávamos quase acabando nossa sessão, quando ele de repente disparou: “Sabe algo que não me sai da cabeça? Quando essa empresa vai morrer? Penso nisso todos os dias.”
Não se tratava de uma sessão de terapia.
Era apenas mais uma conversa de mentoria com o filho do fundador de uma grande organização brasileira, cuja evolução cultural vínhamos apoiando já há quase dois anos.
“Quando essa empresa vai morrer?”
Quantas pessoas fundadoras, presidentes, CEOs se fazem essa pergunta?
Talvez mais do que imaginamos.
Porque simplesmente essa é uma pergunta sensata, uma pergunta de quem reflete seriamente sobre o óbvio ululante de que tudo o que é vivo um dia acaba.
No entanto, quando empresas como Kodak, Blockbuster, Yahoo, MySpace, Atari, entre outras que já foram muito bem sucedidas em seus segmentos, simplesmente bateram as botas, logo surgiram um batalhão de especialistas apontando os erros que as levaram a seu desaparecimento.
A Kodak faliu porque não entendeu que a câmera digital, que ela mesma havia inventado, não era uma ameaça à venda de filmes fotográficos, mas seu próprio futuro.
A Blockbuster não percebeu que seu negócio não era alugar VHS ou DVDs, mas entretenimento.
Erro parecido, cometeu a Yahoo, que se posicionou como portal de mídia e não como portal de pesquisa.
A MySpace, primeira grande rede social dos EUA, estagnou e, sem inovar em funcionalidades, foi rapidamente ultrapassada pelo Facebook..
E a precursora dos videogames Atari foi engolida pelos concorrentes por produzir produtos de qualidade questionáveis.
Não me recordo de ninguém falando que essas empresas morreram porque empresas morrem.
A justificativa é que elas morreram porque foram incompetentes em alguma coisa.
De vez em quando, fazemos o mesmo com pessoas.
“Morreu cedo. Também, fumava que nem um louco!””
“Não se alimentava direito.”
“Não cuidava da saúde.”
“Era muito estressado.”
“Estava dirigindo em alta velocidade.”
Parece que, se encontrarmos uma boa justificativa para a morte de alguém ou de uma empresa, conseguiremos finalmente vencer a morte.
Mas que ser vivo é capaz de vencer a morte?
Uma empresa é um organismo vivo?
Se aceitarmos que uma empresa é um organismo vivo, como nos preparamos para sua morte?
São perguntas que meu cliente estava se fazendo e, segundo ele, sentindo-se angustiado e solitário por não ter com quem conversar.
Mais do que isso, suspeito que ele também estava preocupado, se acaso a empresa morresse em suas mãos, qual seria a incompetência que iriam reputar a ele como justificativa pela morte da organização herdada do pai.
Até já posso imaginar os analistas da vida alheia disparando algo do tipo: “Pensou tanto na morte da empresa, não deu outra: profecia auto-realizável!”