Entrevistado por Fabio Betti, ele contou como montou seu primeiro quiosque para vender celular e sua aposta no mercado de ringtones.
Celular, Ringtone, SMS e Chatbot. Esse é o mundo empreendedor e inovador de Roberto Oliveira, CEO da Take, empresa fundada em 1999 que nasceu com a proposta de levar a internet móvel, então uma novidade, para o dia a dia das pessoas.
Atuando há quase 20 anos no mercado latino-americano de mensageria e conteúdo móvel, Oliveira também é co-fundador e Membro do Conselho da Confrapar, Minutrade e POP Recarga. Formado em Engenharia Elétrica e de Telecomunicações pela UFMG, estudou também Finanças no Ibmec e Educação Executiva, Inovação e Empreendedorismo na Universidade de Stanford.
Entrevistado por Fábio Betti para o blog da Corall Consultoria, Roberto contou como montou seu primeiro quiosque para vender celular e sua aposta no mercado de ringtones. O CEO ainda falou sobre o momento da venda da Take para a japonesa Faith, e a compra de volta pelos fundadores em 2008. Teve ainda um bate papo sobre liderança e as disrupções dos negócios.
“Quero ser lembrado por ter criado uma empresa de tecnologia no Brasil que não perde para nenhuma companhia do mundo”
Você está nesse mercado desde 1999 quando ninguém acreditava e enxergava o negócio de mensageria e conteúdo móvel. Qual foi seu maior aprendizado nessa jornada de empreendedorismo e consolidação do negócio?
Roberto Oliveira: Um lema que hoje faz parte da filosofia da empresa é de saber aproveitar as surpresas que a vida apresenta. Passamos por momentos que aconteceram coisas inesperadas que mudaram nossa história. O grande ponto é que soubemos aproveitar as oportunidades, talvez por uma visão de sobrevivência, e também por sempre ajustar nossos planos muito rapidamente.
Quero deixar uma dica de leitura do livro Black Swan (em português, A Lógica do Cisne Negro), escrito pelo Nassim Taleb, que tem muito a ver com a nossa empresa. São vários exemplos nas maiores empresas do mundo; digo essa questão de começar com um propósito e no meio do caminho as coisas mudaram de rumo. A gente começou vendendo celular, chegamos a ser a segunda maior loja do segmento de Minas Gerais e também éramos uma assistência técnica da Nokia. Mas em 1999 tinha a bolha da internet e o conceito WAP surgindo, que foi a primeira tentativa de colocar a internet no celular. Hoje reforço que a Take foi a primeira empresa de internet móvel do Brasil, mas nosso plano inicial era somente fazer sites e produtos WAP.
O Black Swan foi o seguinte: chegou um amigo da Nokia e desafiou a gente a fazer algo relacionado a download de ringtones. Não sabíamos o que era isso, mas vimos que era uma grande oportunidade. Foi uma conversa de minutos que nos fez olhar para um segmento diferente e que fez explodir no mercado. Conseguimos crescer 250% ao ano durante cinco anos; soubemos aproveitar bem a oportunidade que apareceu.
Você comentou do quiosque que vendia celular em Belo Horizonte. Mas como aconteceu esse salto de funcionário para empreendedor?
Roberto Oliveira: O meu tio e meu eterno sócio Toninho foi um alto executivo da Caixa Econômica Federal que aposentou cedo. Ele sempre falava que quando aposentasse gostaria de montar uma empresa comigo, de ser meu sócio. E eu tinha essa mesma conversa de empreender com um amigo, o Daniel. Nós falávamos inicialmente em montar uma loja de computadores, pois conhecíamos uns distribuidores e já vislumbrávamos o negócio.
A coincidência foi que o Daniel e o Toninho se matricularam em uma mesma pós-graduação. No primeiro dia de aula, o Daniel abordou o Toninho, que era muito parecido com meu pai, e perguntou sobre seu parentesco comigo. Na conversa, o Daniel falou que era meu sócio e o Toninho disse a mesma coisa, mesmo não sendo na época.
Foi então que outra coincidência aconteceu. Meu tio vendeu um apartamento em Brasília para um cara que tinha uma empresa de celular e estava desiludido com o negócio. Surgiu essa oportunidade e meu tio veio falar comigo. Até lembro que na época tinha fila para ativar celular porque não existia pré-pago. Ele ainda se dispôs a fornecer os produtos consignados. Foi assim que montamos o primeiro quiosque.
Começamos em julho e, depois de seis meses, já estávamos faturando com uma nova loja. Chegamos a ter dez lojas de celulares e nos tornamos a segunda maior revenda de Minas Gerais. Foram várias coincidências e oportunidades, com investimento de apenas R$ 500 cada. É o que eu sempre digo: não podemos nos ater apenas a um plano, mas sim aproveitar as oportunidades. Precisamos saber dizer não e ter bastante foco no negócio.
Líder na América Latina, a Take foi vendida em 2005 para a japonesa Faith, criadora da tecnologia de ringtone. Comprada de volta em 2008 pelos fundadores, a Take continuou aprimorando a comunicação móvel. Quais foram os principais aprendizados que você aplicou assim que retomou ao controle da Take depois deste período longe da empresa?
Roberto Oliveira: Na verdade nunca nos afastamos totalmente da empresa. Fiquei um tempo como diretor e depois como conselheiro. Mas algo que aprendi é que não conseguia ficar parado (risos). Nesse período (2005–2008) fundamos outras três empresas que estão aí até hoje, que são a Minutrade, a Confrapar e uma incorporadora no mercado imobiliário.
O curioso foi que vendemos a Take no melhor momento que poderíamos negociar, já que tínhamos o monopólio do mercado e o ringtone, em 2006, começou a deteriorar por conta das gravadoras. Só que a razão de comprar de volta foi totalmente por causa da empresa japonesa, não partiu da gente. Eles eram uma empresa de ringtone de capital aberto, que valia US$ 1,5 bilhão, e com a queda do mercado desistiram do projeto original de ter várias empresas pelo mundo e queriam focar apenas no Japão.
Eles precisavam vender a Take, no Brasil, e me ligaram porque precisavam fechar o relatório dos acionistas rapidamente e não teriam tempo para ir ao mercado negociar. Acreditavam que os únicos que poderiam comprar a empresa rapidamente seriam os fundadores. E foi por isso que o negócio realmente aconteceu.
Mas vocês recompraram a Take cujo principal produto era o ringtone que estava em queda. Como vocês viraram o jogo novamente?
Roberto Oliveira: 2008 e 2009 foram ruins, mas em 2010 conseguimos aproveitar nossas competências e apostamos no mercado de SMS. Uma coisa que acredito é em criar produtos; isso é importante para nossa empresa. Tenho a cabeça voltada para entender o produto e ter uma proposta de valor clara para isso.
Um produto que ajudou nessa virada foi o SMS a cobrar, que foi uma sugestão de um parceiro, e crescemos muito com esse produto. Depois fizemos um produto de Bate Papo e também distribuíamos conteúdo móvel. De 2010 a 2014 crescemos 35% a cada ano. Em 2014 novamente vimos que era hora de inovar e começamos a olhar o que batizamos na época de contato inteligente, que inclui serviços, empresas e conteúdo que são entregues dentro dos aplicativos de mensagens através de contatos.
Sabemos que essa oportunidade é infinita, pois todas as empresas terão pelo menos um contato inteligente. Isso nos inspirou, lá em 2014, a evoluir nossa plataforma para esse novo mundo. Crescemos também porque sempre partimos da importância da experiência do usuário ao invés de olhar somente para a tecnologia.
Quais disrupções estão ocorrendo na sua área de negócios e como você lida com os novos cenários?
Roberto Oliveira: Transformação digital não tem a ver com tecnologia, mas sim com mindset. Os serviços que envolvem software estão engolindo o mundo porque têm a vantagem de se atualizar rapidamente. As empresas que vão conseguir sobreviver são aquelas que se adaptam rapidamente a partir do feedback dos usuários.
A disrupção está mais nessa forma de trabalhar do que nos produtos em si. Quando vem uma empresa, tipo Nubank, que consegue trazer um novo conceito em cima de um mesmo produto, é porque está focada no usuário. É de vital importância fazer uma revolução rápida com base no feedback do cliente.
Como manter a cultura e aprendizagem continua na Take? Tem alguma prática que é especial e que faz a diferença?
Roberto Oliveira: A coisa mais importante, acredito que também seja um diferencial competitivo, é ter uma visão clara e compartilhada do negócio. Nosso primeiro pilar é ter uma visão de ajudar as empresas a estarem presentes no mundo dos contatos inteligentes. O segundo ponto é exatamente sobre culturas e valores. São ações que precisam ser praticadas e não impostas goela abaixo.
O terceiro pilar é o design organizacional, onde temos poucos níveis hierárquicos, mas uma clareza de quem é o responsável por cada área. Acredito na autonomia, mas precisamos saber para onde estamos caminhando. O quarto ponto é o sistema de prioridades, com planejamento de no máximo um ano. E o quinto pilar é nosso sistema de feedback 360º que praticamos a cada seis meses. A velocidade é o nome do jogo, praticamos no dia a dia; é o que chamamos de software mindset.
Falando agora de liderança, algum líder ou modelo de liderança foi mais inspirador para você?
Roberto Oliveira: Hoje acompanho muito o Vale do Silício. Mas teve o Steve Job, que sempre abordou coisas da área de marketing que levo em consideração. Só que não tenho um líder específico, mas vários conceitos que capturei dos diversos líderes que me inspiram e transformaram a cultura de alguma forma.
Se você realizar tudo que já desejou e deseja, pelo que gostaria de ser lembrado?
Roberto Oliveira: Quero ser lembrado por ter criado uma empresa de tecnologia no Brasil, com ajuda dos sócios e funcionários, que não perde para nenhuma companhia do mundo.
Mas tem uma coisa que fez diferença na minha vida. Meu pai tem uma empresa de tecnologia, podemos dizer que pequena, onde sempre falava que o produto era melhor do que das empresas americanas. Cresci com essa questão de ser e fazer o melhor. Por isso, quando surgiu o desafio de criar a plataforma de ringtones, nunca passou pela mente não ser a melhor empresa do setor.
E com os contatos inteligentes não tem sido diferente, pois estamos sendo reconhecidos por todo mundo. O ano passado foi bem marcante, fomos reconhecido pela Gartner, Facebook e Google.
Se pudesse voltar no tempo para conversar com o Roberto, aquele que acabou de sair da Faculdade, quais seriam os conselhos? O que faria diferente?
Roberto Oliveira: Falaria para cuidar da contabilidade, contratar os funcionários sempre via CLT e seguir rigorosamente as regras de impostos. Digo isso porque no início éramos impulsivos e não existia uma preocupação com as questões de contabilidade.
O mais importante é que no meio do caminho mudamos esse conceito e passamos a andar rigorosamente na linha. Desde 2001 prezamos totalmente por essa clareza e adotamos a prática de Oculto Zero, como chamamos internamente, com um time forte de contabilidade.
Artigo originalmente publicado na HSM Experience: