Outro dia escrevi um artigo sobre transformação pessoal fazendo uma analogia com a omelete, para enfatizar que ela só é possível quando se quebra alguns ovos. Ou seja, mudando algo estabelecido e que parece bom, mas que pode ficar ainda melhor ao ser transformado. Pegando carona na boa recepção que o texto teve, repito aqui a ideia de receita desta vez para falar sobre a importância da colaboração para atingir melhores resultados na comunicação de uma empresa – tal qual acontece quando um solitário feijão vira uma espetacular feijoada ao ser preparado com a cooperação de outros elementos.
Nesse sentido, a gente pode imaginar quais seriam os ingredientes necessários para que a “feijoada da colaboração” aconteça. Antes, porém, quero ressaltar que esse prato não tem uma única receita que seja a certa, a perfeita. Cada um o prepara como melhor lhe apetece. E nada impede de experimentar novas combinações.
Voltando à colaboração, quais ingredientes você considera necessário para que ela aconteça com mais eficácia? Enquanto você imagina a sua receita, eu conto a seguir os ingredientes que faço questão de usar:
Confiança
A explicação é simples: ninguém se sente seguro em expor suas ideias num ambiente onde possa ser atacado, criticado ou até mesmo ironizado em vez de acolhido, ouvido, respeitado. Por isso é que certamente o primeiro ingrediente da minha “feijoada da colaboração” é a confiança.
Horizontalidade
Esse segundo ingrediente para uma colaboração mais efetiva tem a ver com a dinâmica relacional estabelecida na empresa. Na maioria das vezes ela é hierárquica, no mood “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Uma visão antiquada, ultrapassada e com o perigoso efeito de minar o menor dos desejos da equipe de colaborar. Esse ingrediente é tão poderoso que a sílaba “co” já está incorporada à nossa linguagem, no dia a dia de produção e consumo, nas redes sociais e nas parcerias entre empresas, fornecedores e consumidores.
Bons exemplos são COwork, COlab, COprodução e CObranding, que resumem bem a ideia de unir forças para atingir melhores resultados. Mas essa colaboração só acontece quando a empresa tem uma dinâmica relacional realizada na horizontalidade, algo que só existe num lugar em que não há separação, até porque “co” é junto – um conceito que deve se estender a “detalhes” como o banheiro de uso exclusivo do chefe, a vaga especial no estacionamento, a sala com porta fechada. Fica a dica.
Crise
Sim, você leu certo. A crise, bem como o incômodo e desconforto que ela gera, também são ingredientes essenciais, pelo menos na minha feijoada. A explicação é simples: as pessoas se mobilizam a fazer algo juntas, a colaborar umas com as outras, quando elas têm alguma dor ou sonho em comum. Inclusive porque esse sentimento vem associado a ideia de que aquela conquista será boa para todos. Por isso é que entendo a crise como o fogo para essa feijoada da colaboração permitir que os ingredientes alterem seu estado original e se misturem uns aos outros, emprestando sabor, aroma, acidez, suavidade…
Diálogo
Na minha feijoada da colaboração, associo o diálogo, a troca de ideias, ao caldeirão onde todos os ingredientes são colocados. Mas aqui eu preciso fazer um alerta: esse diálogo não pode acontecer nos moldes a que nos acostumamos pelo tipo de manipulação a que somos submetidos nas redes sociais – onde as conversas são superficiais, rasas e em que todos falam, mas ninguém ouve, sendo apenas uma expressão de voz, e não de escuta. Esse caldeirão criado pelo diálogo é um espaço onde os ingredientes conseguem se misturar e as diferentes perspectivas são bem-vindas para que todos saiam do encontro afetados de alguma maneira.
Paciência
Arrisco dizer que este é o ingrediente mais caro e raro da feijoada da colaboração. Afinal, colaboração não se conquista do dia para a noite. É preciso dar tempo para os ingredientes serem reunidos e afetados uns pelos outros, como disse há pouco. Junte aí crença tão arraigada em nós de que não fomos feitos para colaborar uns com os outros. Falamos que isso é parte da nossa cultura, mas não é. Se fosse, não estimularíamos tantas competições e divisões ao longo da nossa existência para ser, por exemplo, o filho que dá mais orgulho aos pais, o melhor aluno da sala, o homem ou a mulher mais atraente, o funcionário que entrega mais resultado. Por isso acredito firmemente que ter paciência é um movimento anticultural.
Decisão
Entendo esse ingrediente como o tempero que você escolhe e é responsável por dar o toque final à feijoada da colaboração. Apesar de parecer contraditório, é preciso entender que colaboração também significa ter que tomar uma decisão, já que nem toda colaboração chega a um consenso. Aí é que entra a importância de expor suas ideias e, também, de ouvir o outro para conseguir consentir quando necessário e poder, assim, desenhar o melhor caminho diante de tantas possibilidades.
Terminado o preparo da nossa feijoada da colaboração, agora é hora de degustar esse prato que tem a incrível capacidade de ampliar nossa visão de mundo, de fazer a gente se sentir mais conectado. Spoiler: isso libera uma cascata de endorfina, que gera o desejo de se envolver mais, de fazer mais junto, de colaborar sempre, o que leva até o maior dos tímidos a se sentir mais solto a contribuir em termos de processo. Algo essencial, porque tudo o que é novo costuma ser tortuoso no início, especialmente quando se trata de transgredir – sim, esta é a palavra – a cultura de uma empresa. Mas, eu te garanto: à medida que contribui, você se sente menos tenso e fica muito mais criativo. Além do quê não existe evolução em nenhum sistema vivo sem que haja algum tipo de transgressão.
Como falei no começo deste artigo, estes são os ingredientes que nós da Corall Consultoria acreditamos ser essenciais para criar uma boa feijoada da colaboração. À qual estimulamos que cada empresa que prestamos consultoria acrescente elementos que criem uma receita mais sob medida às suas necessidades. Até porque colaborar é também um espaço para a experimentação. E você, está pronto para essa incrível experiência?