É mais comum do que se pensa ouvir relatos de pessoas que não se sentem reconhecidas nas empresas em que trabalham. É como se a proximidade e o contato frequente dificultassem perceber como as pessoas à nossa volta evoluem. Como uma espécie de hipermetropia social, não somos capazes de perceber os detalhes do outro, enxergando apenas uma imagem borrada.
Mas existe uma solução para evitar essa tendência? Algumas empresas estimulam as conversas anuais sobre desempenho, exatamente para promover essa reflexão. Porém o que tenho observado nas interações com inúmeros clientes dos mais diversos setores e portes, é que essa estratégia não está funcionando muito bem. Acredito que a solução não está na ferramenta, por melhor que ela seja e sim na lente de cada indivíduo.
Para entendermos esse fenômeno, podemos combinar dois pensamentos, um filosófico milenar e outro científico e bem atual!
O filósofo pré-socrático, Heráclito já dizia:
“Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou.”
A sabedoria dos nossos antepassados já revela esse entendimento do ser humano como um ser em constante evolução.
Já a neurociência em estudos atuais, aponta que nosso cérebro possui um modo automático de funcionamento para situações que se repetem. Esse modo automático, é muito importante pois reduz a energia necessária para atividades conhecidas como escovar os dentes, dirigir o carro para casa, etc. Ao mesmo tempo, esse sistema automático, pode nos induzir a manter o mesmo pensamento sobre as pessoas com as quais interagimos constantemente. Por exemplo quando não perguntamos a um colega de trabalho o que pensa sobre um assunto, pois já fizemos isso em algum momento no passado e acreditamos que isso se mantém.
A meu ver, encontrar o ponto de equilíbrio entre estas duas vertentes de pensamento, pode ser um bom caminho para reduzirmos os efeitos nefastos da hipermetropia social.
Manter uma mente curiosa sobre o outro, brincando com a ideia da metamorfose ambulante, do nosso querido Raul Seixas, pode ser um desafio interessante. Podemos antes de um encontro com alguém conhecido, trazer à mente a pergunta: Quem será que vou encontrar hoje? E ao longo da conversa deixar-se surpreender por algo novo. Te convido a experimentar esse estado de curiosidade genuína para sentir o que de diferente acontece!