Por duas semanas tive a oportunidade de resgatar sabedorias milenares e vivenciar momentos maravilhosos nas montanhas sagradas do Arizona.
Muito antes de existirem as religiões e suas tradições, templos e igrejas os seres humanos já cultuavam o divino na mãe terra e nos elementos da natureza como o sol, lua, estrelas, montanhas, rios, animais e plantas. Por duas semanas tive a oportunidade de resgatar esta sabedoria milenar e vivenciar momentos maravilhosos nas montanhas sagradas do Arizona nos Estados Unidos.
Após dois dias de preparação e treinamento em práticas espirituais na natureza saí em caminhada para o vale, coberto por uma leve floresta e por onde passa um riacho de água gelada, habitado por inúmeros pássaros, perus selvagens, veados, ursos, jaguares e muitos outros animais. Chegando lá construí o meu círculo sagrado de 108 passos de diâmetro com um lindo pinheiro como centro e montei uma barraca que seria a minha moradia.
Ao longo da semana, vivenciei um encontro mágico de integração com a natureza, permanecendo sempre dentro do meu círculo, fazendo práticas de relaxamento, presença, meditação e cultivo de energia como Tai Chi e Chi Cong. A partir do nascer do sol seguia o fluxo do dia e construí uma rotina com as práticas e o prazer de contemplar e interagir com os diversos seres vivos presentes no círculo.
Com o objetivo de tornar a minha percepção cada vez mais sutil e me purificar fiquei em jejum completo de comida e descobri que vivemos muito bem sem o ritual das nossas refeições diárias. Este processo de purificação é acompanhado somente por um suco de limão, “maple syrup” e pimenta cayenne para evitar enjoos e dores de cabeça. Fiquei impressionado em como me senti cheio de energia vital e clareza mental ao longo de tantos dias de jejum.
No início me senti um estranho na floresta, mas à medida que o tempo foi passando fui me sentindo cada vez mais em casa e os animais e pássaros passaram a me reconhecer como uma parte do ambiente e, assim, foram se mostrando e se aproximando para conhecer o novo membro do ecossistema. Em um dos dias acordei com um festival de esquilos brincando e se divertindo nas árvores a minha frente e em outros fui acordado por um bando de perus selvagens passeando pelo vale.
Meu colega de retiro, cujo círculo ficava a umas centenas de metros rio acima, teve o privilégio de ser visitado por um urso marrom enorme. Imagine a sua emoção e seu susto ao se deparar com um animal daquele porte que se aproximou e o olhou nos olhos, cumprimentando-o a distância. O urso representa uma força especial da natureza, o maior animal do ecossistema, que também veio se apresentar e deixar sua marca no nosso retiro.
Por mais incrível que possa parecer, os dias passaram muito rápido. Minha rotina diária foi ficando cada vez mais introspectiva e focada no meu auto-conhecimento ao mesmo tempo que me integrava a magia da natureza, ouvindo o canto dos pássaros, sentindo o vento balançar às árvores, vendo o fluxo do rio passar e o sol nascendo e se pondo no horizonte para dar lugar as lindas estrelas vistas na clareza da noite do deserto. Me reconheci como apenas mais um ser vivo naquele ecossistema onde a interdependência entre todos é a realidade viva e evidente, fortalecendo dentro de mim uma perspectiva muito diferente daquela em que o ser humano se apropria da natureza como um recurso ilimitado que está ao seu serviço.
O mergulho profundo em mim mesmo neste lindo e silencioso encontro com a mãe terra revelou muitos insights sobre a vida, identificou bloqueios, oportunidades de evolução e proporcionou uma abertura do meu coração e da minha alma me conectando com a natureza e a mim mesmo com uma extrema profundidade. Esta foi uma vivência marcante de desenvolvimento pessoal e espiritual que me transformou para sempre.
Artigo originalmente publicado no blog Gestão Fora da Caixa da Exame.com