Alguns anos atrás, contamos com a ajuda de uns amigos de outra consultoria – a incrível Inventta – para entender como nossos clientes percebiam o nosso trabalho. De tudo o que eles capturaram, o comentário que mais chamou nossa atenção foi que era meio difícil entender o que fazíamos, mas que nós éramos capazes de tocar o intangível. E agora chegou finalmente a hora de revelar o que está por trás dessa frase.
Tocar o intangível.
Por mais estranha e paradoxal que fosse, essa frase fez tanto sentido pra gente que, durante um bom tempo, quando nos perguntavam sobre nossa metodologia, logo nos lembrávamos do “tocar o intangível” e a apresentávamos como a metodologia Ziriguidum.
Além de uma certa graça, isso também tinha uma certa lógica, na medida em que sempre nos orgulhamos de adotar uma abordagem complexa, o que significava não se apegar a uma única metodologia.
Como era difícil dar nome a um arcabouço mercadológico tão diverso, ziriguidum, que era só uma onomatopeia sem qualquer significado que não fosse o de imitar o barulho de uma batucada, parecia se encaixar como uma luva.
O tempo passou, a Corall fez 10 anos, resolvemos escutar todos os nossos stakeholders, e não mais apenas nossos clientes, e parece que finalmente chegou a hora de trazer mais clareza ao tal ziriguidum que, com todo o respeito, já cumpriu com seu papel e agora sai de cena para que outras palavras, cujos significados não fiquem mais apenas no subjetivo, possam ter seu lugar.
O primeiro ingrediente do molho é a palavra INTERAÇÃO.
O problema não está nas pessoas, mas entre as pessoas.
As empresas perdem muito tempo e dinheiro tentando consertar as pessoas porque no fundo elas ainda acreditam que são máquinas.
Desde essa lógica, qualquer falha no sistema pode ser identificada e corrigida.
Basta rodar umas ferramentas de assessment para identificar os gaps.
Depois, fazer rodadas de feedback e colocar as pessoas em treinamentos.
Devidamente capacitadas, as pessoas voltarão a cumprir com o que se espera delas. Ou serão demitidas.
O problema é que esta lógica mecânica não serve para seres vivos.
A lógica que serve para seres vivos é a lógica complexa.
Na complexidade, os problemas não estão nas partes, como na lógica mecânica, mas na relação entre elas. Não adianta isolar o pé para entender e tratar a dor do pé. É preciso investigar a relação entre o pé e outros agentes que interferem no andar.
Quando, em nosso trabalho como consultores, nos deparamos com narrativas onde as pessoas são apresentadas como “o problema”, convidamos a olhar para os padrões de interação que elas estão manifestando. As pessoas são apenas o lugar onde esses padrões aparecem. Os padrões estão no sistema, no time, na organização.
Tanto é que trocar a pessoa não resolve o problema.
Isso serve para empresas e para nossas relações pessoais.
Deslocar o olhar da pessoa para a interação entre as pessoas nos permite, logo na largada, estabelecer um clima de abertura e curiosidade essencial para que as pessoas se sintam disponíveis para colaborar.
Em contraponto ao clima de medo gerado com o caça às bruxas da lógica mecânica.
Olhar para a interação nos tira do lugar de juízes donos da verdade e nos coloca no lugar de cientistas que procuram entender os padrões e as condições que favorecem que eles se manifestem.
E assim aprendemos as razões pelas quais aquelas pessoas não estão manifestando os comportamentos esperados.
Claro que tem sempre a responsabilidade da pessoa. Mas somos seres sociais e nosso comportamento é fortemente influenciado pelo meio em que vivemos.
Quer contribuir para resolver os problemas manifestados pelas pessoas?
- Observe a interação entre elas
- Perceba que padrões aparecem
- Investigue as condições que o favorecem
- Experimente fazer pequenas mudanças nas condições
- Perceba os novos padrões que emergem
- Observe o impacto sobre a interação entre as pessoas
- Repita os passos de 1 a 6 (e de novo e de novo…)
Não tem segredo, mas tem trabalho.
Porque o modo mecânico é pré-configurado. É baseado em conhecimento adquirido, em benchmarking, no que já deu certo, basta aprendê-lo e repeti-lo. Seria ótimo se funcionasse.
O modo complexo é recursivo. É baseado em aprendizagem contínua, em experimentação, no que está ou não funcionando, sem julgamento de certo ou errado. É ótimo, porque funciona muito melhor. Mas dá trabalho, muito trabalho.
O segundo ingrediente do molho é a palavra INTEGRAÇÃO.
O problema não está nas diferenças, mas na dualidade.
Na Corall, desde sempre, quando temos uma opinião diferente para trazer, dizemos: “gostaria de trazer uma perspectiva complementar a sua”.
Além de ser uma linguagem não violenta, que contribui para uma conversa mais civilizada, essa abordagem honra a vida como ela é, onde ninguém tem a visão do todo e, portanto, não tem acesso a uma verdade que poderia ser defendida como universal.
Se eu sei disso, como sempre costumava dizer Maturana, perdi a inocência.
Não posso mais dizer de um lugar como se o que eu dissesse fosse a única perspectiva válida possível.
Assim, ao invés de estabelecer uma dinâmica de oposição, criamos uma dinâmica de complementariedade.
Cada um apresenta o que vê, justifica da forma que quiser a relevância do que está vendo para o tema que está sendo discutido e, ao final, depois de escutar todas as perspectivas, os envolvidos na discussão escolhem a que parecer mais efetiva.
Sem luta, sem apegos, sem desqualificações.
Parece um mundo utópico, né?
Quando olhamos a grande maioria das conversas em que nos metemos, isso soa realmente como uma realidade longínqua.
É cada um defendendo sua posição com unhas e dentes, como se sua vida dependesse disso.
Tanto é que a posição do outro, também defendida com unhas e dentes, é vista como ameaça e precisa a todo custo ser rechaçada.
E por acaso alguém aqui disse que seria fácil?
Nossa cultura foi moldada em torno da lógica mecânica.
Conhecimento é poder.
Aprendemos desde cedo.
A realidade, no entanto, nos mostra outra coisa.
Conhecimento nos leva ao emburrecimento.
Quando nos apegamos a um conhecimento adquirido e o defendemos com unhas e dentes diante de algum tipo de situação, bloqueamos a porta para – pasme! – adquirir novos conhecimentos.
Maturana também dizia que a certeza cega. “Quanto mais certezas você tem, menos você sabe.”
A certeza é a grande inimiga da ciência.
Se queremos realmente contribuir para um mundo melhor, precisamos cultivar mais dúvidas do que certezas.
E é com esse olhar que entramos nas organizações: com dúvidas que levam a mais dúvidas e a mais dúvidas.
Um caminho que é percorrido com a inclusão contínua das diferentes perspectivas das pessoas até que, em algum momento desse amplo mosaico, as coisas comecem a fazer sentido.
É assim que se lida com problemas complexos.
Para resolver problemas mecânicos, aprendemos que a melhor forma é fragmentá-los em problemas menores.
Para lidar com problemas complexos, precisamos adicionar mais complexidade, ou seja, trazer mais e mais informações, integrando as diferentes perspectivas sobre os fenômenos, até que, em algum momento, a visão ampliada permite encontrarmos um caminho que costuma ser simples, mas impossível de ser enxergado desde um lugar onde só vale o que somos capazes de ver.
E, por fim, talvez você esteja se perguntando por que resolvi revelar nosso molho secreto.
Primeiro, porque vai ficar mais fácil para quem quiser n
os contratar entender como fazemos o que fazemos. Porque acreditamos na transparência.
Segundo, porque esse molho, sendo secreto, não serve para nada. Ao expô-lo, estamos abrindo a possibilidade de mais gente também experimentá-lo e que, entendendo sua essência, possa também incluir seus próprios temperos e aprimorá-lo. Porque confiamos na abundância.
E, por último, embora eu esteja falando de algo que acontece entre a Corall e seus clientes, não se trata de algo exclusivo a um processo de consultoria. Os princípios da interação e da integração servem para qualquer tipo de relação estabelecida entre seres humanos. Porque sabemos que não estamos separados.
Experimente, portanto, usar esse molho em sua vida. Com a prática, quem sabe você também acabe desenvolvendo a capacidade de tocar o intangível?
*Este não é um texto institucional e, portanto, não reflete necessariamente a visão da Corall ou de seus sócios e sócias, mas se você resolver perguntar a um de nossos clientes, ele ou ela provavelmente irá confirmar o que escrevi aqui ou simplesmente disparar com um “eles são capazes de tocar o intangível”.