Como o Palco Corporativo Distrai as Lideranças de Assumirem a Responsabilidade que o Mundo Precisa
Vivemos em um mundo onde as lideranças estão frequentemente distraídas pelo jogo corporativo dos turnarounds, dos bônus milionários, das metas ambiciosas, dos movimentos heroicos e dos anúncios grandiosos.
Esse jogo nos coloca numa espécie de parque de diversões, onde tudo é cuidadosamente construído para que as pessoas se distraiam e deixem de enxergar e conviver com o que acontece do lado de fora.
Do lado de fora, a vida está precisando de nós e de uma nova abordagem de liderança para continuar prosperando.
Este texto convida a uma conversa com pessoas que perceberam a distração do parque e querem sair dessa ilusão para assumir as responsabilidades necessárias.
A distração do parque deixou de ser um risco calculado e se transformou em uma negligência perigosa para o presente. Nenhum de nós pode mais usar a carta da ignorância ou da ingenuidade. Temos informação suficiente para que ninguém aceite aquela mesma justificativa que as lideranças nazistas usaram no passado: “eu só estava fazendo bem o trabalho que me foi atribuído…”
Para encontrar a saída do “parque das ilusões”, precisamos urgentemente reavaliar nossa percepção sobre o que é liderança.
O parque diz que liderança é um conjunto de competências que uma pessoa possui ou pode adquirir através de treinamentos e capacitações. Também diz que liderança é algo intrínseco a uma pessoa, que ela é líder em qualquer contexto.
Fora do parque, a liderança é uma função que surge das interações, dentro de um contexto. É algo que acontece entre as pessoas (entre os seres vivos). É um processo que transita entre as relações e se manifesta através de algumas pessoas quando em interação com outras. É uma sábia tapeçaria de entrelaçamentos de aprendizados do processo evolutivo.
O primeiro passo para encontrarmos a saída do parque é assumir que a liderança não nos pertence.
É preciso reconhecer que não somos capazes de fazer as mudanças gigantescas necessárias, mas somos capazes de contribuir com a tapeçaria da liderança fazendo um novo entrelaçamento ao expandir as interações, ao ampliar a sobreposição entre diferentes contextos, ao assumir que nossa voz não é tão importante assim e convidar outras vozes a se juntarem com a mesma potência.
Para enfrentar as crises atuais, precisamos abrir mão da ilusão de liderança heroica que o parque implantou em nós.
Precisamos nos comprometer com uma visão mais ampla e interdependente do mundo.
Uma liderança que assuma a responsabilidade por criar um futuro onde a vida continue viável.
Um mundo não antropocêntrico.
Uma liderança não heroica!