A mudança (ou a necessidade dela) nas organizações não é mais um evento esporádico, com prazos e variáveis definidas e controláveis. A mudança é uma realidade constante e complexa, de fato, mais do que a mudança, as organização necessitam de constantes movimentos de transformação.
Mas, isso não é lá grande novidade, já que os seres vivos (inclusive os humanos, sempre estiveram e) estão em constante evolução, logo, estão em constante transformação, e, pelo que se observa, isso é essencial para a sustentabilidade da vida.
Se a transformação é um evento natural na vida dos seres vivos, por que as organizações encontram tantas dificuldades quando procuram realizar uma mudança, uma transformação? A ponto de dizerem que os seres humanos são resistentes às mudanças?
Uma das respostas possíveis é que as empresas tentam se transformar aplicando modelos de gestão de mudança inspirados no modelo mecânico, no modelo criado para realizar mudanças em máquinas ou em processos.
O Processo de Transformação Inspirado nos Sistemas Vivos
Margaret J. Wheatley, uma das pensadoras organizacionais mais inovadoras e influentes de nossa época, descreve em seu livro “Liderança para Tempos de Incerteza” como seria um Processo de Transformação em organizações que se comportam como sistemas vivos.
A princípio, esse processo “vivo” e “auto-organizado” pode parecer um pouco estranho, um desafio muito difícil, ou até mesmo utópico, principalmente considerando o paradigma vigente onde um grupo precisa liderar, usar da publicidade para obrigar a sensibilização da equipe seguindo etapas e um processo todo mecânico e linear. Mas, se você parar para ler e refletir com atenção, verá que, na prática, o que acontece no mundo real, nas redes reais de pessoas reais, parece ser exatamente esse processo “vivo” e “auto-organizado” que acontece, e em alta velocidade.
Vemos que o que acontece parece ser a natural sensibilização a uma informação importante, que é espalhada e amplificada pela rede, que acumula a ela significado, tornando-a tão importante que o sistema não dá conta mais conta, aí vem o estágio do caos, onde a confusão e a incerteza obrigam o sistema a se fragmentar e deixar de ser quem era, a partir daí, ele está preparado para a transformação. Então, passa se reorganizar com novas interpretações do que é real e importante, como uma nova e única maneira de ver o mundo e de preservar a vida.
Explicando esse processo em detalhes, Margaret J. Wheatlhey escreve:
“A vida modifica suas formas de organização usando um processo inteiramente diferente, que não pode ser definido em termos de incrementos nítidos ou passos sequenciais. Eles ocorrem no emaranhado de relações — as redes que caracterizam qualquer sistema vivo. Não há estágios simples nem linhas causais fáceis de traçar. As mudanças são rápidas mas invisíveis, ocultas pela densidade da rede.
Se as organizações se comportam como sistemas vivos, este deveria ser seu processo de mudança:
Uma parte do sistema (que pode ser de qualquer tamanho — uma organização, uma comunidade, uma equipe ou uma nação) percebe alguma coisa. Pode ser por intermédio de um memorando, de um comentário casual, de uma notícia. E se deixa sensibilizar por isso. Aqui, se deixa é um verbo importante. Ninguém diz a um sistema vivo o que deve sensibilizá-lo (embora tentativas não faltem). Quando se deixa sensibilizar, ele pega a informação e faz com que ela circule rapidamente pelas redes. À medida que ela circula, outras a agarram e a amplificam. Assim, a informação cresce, se modifica, fica distorcida com relação à original, mas vai acumulando mais significado. Finalmente, a informação fica tão importante que o sistema não dá mais conta dela. Então, e só então, ele começará a mudar.
A importância da informação o obriga a abandonar suas convicções, estrutura, padrões e valores presentes. Ele não pode usar o seu passado para entender a nova informação. Resta-lhe mergulhar num estado de confusão e incerteza semelhante ao caos, um estado que é sempre terrível.
Tendo se fragmentado e deixado de ser o que era, o sistema está finalmente aberto à mudança. Ele vai se reorganizar usando novas interpretações do que é real e do que é importante. Ele se torna diferente, porque passa a entender o mundo de maneira diferente. Paradoxalmente, como acontece com todos os sistemas vivos, ele se modifica porque essa é a única maneira de se preservar.”
E aí, está aberto a experimentar um verdadeiro processo de transformação, desses que só os seres vivos e seus sistemas complexos sabem fazer?
É mais um daqueles processos naturais espetaculares, que parecem difíceis de tão simples.