Há menos de um mês estive de férias visitando o Butão, um sonho de longa data que finalmente consegui realizar. Alguns amigos ainda hoje brincam comigo: “conheço uma das poucas pessoas que foram para o Butão, e voltaram”. Além de desfrutar um ambiente ecologicamente preservado e limpo (ar, rios, ruídos e atrevo-me a dizer pensamentos puros), o que mais me marcou nesta experiência foi poder identificar na prática o que significa o Butão e o índice FIB.
A ideia do FIB, acrônimo de Felicidade Interna Bruta, foi revelada ao mundo na década de 70, quando o então rei do Butão queria expressar para um repórter a tônica da forma de viver em seu país, onde é mais importante maximizar o FIB que o PIB (produto interno bruto, a soma de toda produção e consumo de bens e serviços de um país). E o FIB inclui, transcende e transborda o PIB pois além de considerar o padrão de vida de seu povo, coloca no mesmo nível de importância outros aspectos interdependentes da vida, tais como saúde, educação, preservação da cultura milenar de seu povo, nutrição da vitalidade comunitária, manutenção da resiliência ecológica do país, boa governança das instituições, uso do tempo e bem-estar psicológico.
O FIB inclui, transcende e transborda o PIB pois além de considerar o padrão de vida de seu povo, coloca no mesmo nível de importância outros aspectos interdependentes da vida, tais como saúde, educação, preservação da cultura milenar de seu povo, nutrição da vitalidade comunitária, manutenção da resiliência ecológica do país, boa governança das instituições, uso do tempo e bem-estar psicológico.
Poder experimentar na prática o que significa isso foi um grande presente. Andando nas ruas você percebe a abertura das pessoas para se conectar com você, com um semblante tranquilo, sorridente e receptivo. É quase uma unanimidade os turistas terem fotos suas com crianças sorridentes dada a sua curiosidade natural e amistosa. Ao final do dia as pessoas se reúnem para jogar arco e flecha (esporte nacional) acompanhado de rituais de canto e dança que honram a cultura nacional. Nas lojas e hotéis a amabilidade e presença com a qual você é recebido, faz a diferença. Encontrei muito mais desenvolvimento econômico do que pensei antes, uma frota nova de carros, boas estradas e muitas ainda em expansão, bons hotéis e restaurantes, boas escolas e centro culturais, confiança e respeito com as instituições e o governo.
O setor privado está em pleno desenvolvimento embora ainda seja incipiente. A dona do hotel onde ficamos é uma pessoa superenergética, simpática e amorosa. Qual foi minha surpresa ao saber que além daquele hotel em Thimpu ela também possui um em Paro (gerenciado à distância com autonomia e confiança na equipe local) e está construindo outro em Punaka. Uma empreendedora consciente na prática! Percebi que o incipiente capitalismo do Butão talvez possa oferecer ao movimento do capitalismo consciente bons exemplos de como integrar o propósito do negócio, o interesse de seus stakeholders (incluindo o impacto positivo ecológico) e uma cultura e gestão amorosas calcadas em valores humanos universais.
Quando tenho a chance de ver na prática que uma realidade melhor para todos é possível, me sinto inspirado a nutrir, ainda com mais intensidade, essa realidade aqui mesmo, em minha casa, minha empresa, em meus clientes e com quem me relaciono.
Você volta de Butão com mais otimismo e esperança, começa a ver que na verdade eles estão conseguindo progredir no desenvolvimento de sua sociedade e ambiente de forma bem planejada e equilibrada, considerando o impacto em todos os stakeholders e na vida em geral. Contribuindo para isso as várias iniciativas tais como capitalismo consciente, sistema B, gamechangers 500, entre outros que estão fazendo sua parte para transformar o mundo a partir das organizações, que possuem muito poder e influência em como as coisas funcionam hoje. Além disso, um novo marco de desenvolvimento e progresso para as nações no mundo acaba de ser lançado pela ONU, por meio das 17 metas de desenvolvimento sustentável que, em essência, reforçam os mesmos valores de dignidade e protagonismo do ser humano em equilíbrio com a teia da vida na Terra. Frente a tantas notícias ruins e eventos que desafiam nossa crença de um mundo melhor (enquanto escrevo acabo de ver a notícia sobre o atentado em Paris), quando tenho a chance de ver na prática que uma realidade melhor para todos é possível, me sinto inspirado a nutrir, ainda com mais intensidade, essa realidade aqui mesmo, em minha casa, minha empresa, em meus clientes e com quem me relaciono.
E você, como acha que sua empresa pode evoluir baseado nestes conceitos do FIB?
Vicente Gomes é sócio Corall, cofundador do Capitalismo Consciente Brasil e escreve para o blog Gestão Fora da Caixa, da Exame.