O Lama e os CEOs
No final de junho quatro amigos realizaram um antigo sonho de proporcionar um encontro entre o Lama Padma Samten e um grupo de CEOs. Há vários anos a Lais Passarelli, Cristina Aiach, Miguel Bermejo e eu imaginamos como poderia ser a experiência de juntar um Lama Tibetano, um mestre budista que começou a sua carreira como físico quântico, para conversar com um grupo de líderes empresariais.
Quando perguntamos aos 30 CEOs presentes porquê aceitaram nosso convite recebemos as mais variadas respostas: curiosidade, interesse em aprender, conexão com a tradição budista, vontade de contribuir para um mundo melhor, ter uma experiência diferente ou simplesmente aceitar um convite de bons amigos.
O Lama falou com os executivos a partir da provocação de algumas perguntas que lhe fizemos antecipadamente: como a liderança pode estar a serviço do desenvolvimento da consciência pessoal e coletiva?, é possível a plenitude num mundo incerto e impermanente com tantas demandas como no mundo corporativo?, como transformar o propósito de uma organização em um ser e fazer mais real e mais autêntico?
Falando a partir do seu coração ele criou um campo de energia na sala que envolveu a todos. Como ele diria, por aquelas horas, criamos juntos uma nova realidade, uma bolha muito especial, onde foi possível conversar sobre o ser humano, liderança, organizações e o planeta a partir de uma perspectiva diferente.
Cada um de nós cria a sua própria bolha, ou até várias bolhas diferentes, as quais nós chamamos de realidade.
Cada um de nós cria a sua própria bolha, ou até várias bolhas diferentes, as quais nós chamamos de realidade. Nós pensamos, sentimos e agimos acreditando que isso é a realidade e como líderes de organizações contribuímos para criar uma bolha organizacional, onde desejamos que as nossas equipes vejam o mundo e o mercado a partir desta perspectiva. O Lama nos desafiou de forma sútil e convincente que esta bolha é somente uma alternativa e que existem infinitas possibilidades de construirmos outras perspectivas da realidade.
Dentro de uma empresa, construir uma cultura a partir de uma identidade essencial e um propósito comum é fundamental para o sucesso. No entanto, este modelo de como pensamos e agimos juntos precisa ser permeável à múltiplas perspectivas e tudo isso começa com a vontade genuína dos líderes de escutar de forma apreciativa as outras vozes, internas e externas, que podem contribuir com novas visões de como a organização deve evoluir.
Na natureza e no mercado as espécies e as empresas que tem sucesso sustentável são aquelas que se adaptam melhor as novas circunstâncias de um ecossistema que é cada vez mais interdependente. Por outro lado, as espécies e as empresas, que não sobrevivem são aquelas que se fixam tanto nas suas bolhas de realidade que nem percebem que aquele olhar é somente uma possibilidade, um profundo transe organizacional, que limita a expressão dos talentos e o sucesso empresarial.
Se tivermos lucidez e nos dermos conta que esta realidade é somente uma bolha possível, podemos nos questionar, expandir nossa consciência e nos libertar para viver outras possibilidades.
Claro que isso se aplica também a cada um de nós como indivíduos. Em todos os momentos estamos co-criando a nossa realidade, construindo bolhas onde buscamos viver plenos e felizes com as nossas famílias, amigos e nas empresas onde trabalhamos. Se tivermos lucidez e nos dermos conta que esta realidade é somente uma bolha possível, podemos nos questionar, expandir nossa consciência e nos libertar para viver outras possibilidades que nos aproximam ainda mais da nossa essência e da felicidade plena.
Espero, ou melhor, nós quatro esperamos, que essa semente que foi plantada na mente e nos corações destes CEOs possa reverberar dentro deles, nas suas organizações e no mercado, para que juntos possamos contribuir para construir um mundo melhor para todos.
José Luiz Weiss é sócio da Corall e escreve para o blog Gestão Fora da Caixa, da Exame.