O Poder de um Dojo
Por José Bueno
“O papel de um líder é criar um campo que inspire confiança e criatividade em sua equipe.”
No início da década de 80, entrei num Dojo pela primeira vez. Era uma pequena sala no centro de São Paulo onde tomei meu primeiro contato com o Aikido. Para quem não sabe ou nunca entrou, Dojo é o lugar onde se pratica uma arte marcial. Um lugar onde os praticantes dedicam tempo e suor para se apropriar de um conhecimento.
Com o tempo, percebi que Dojo pode ser também um lugar onde pessoas se dedicam à prática de qualquer arte, conceito ou filosofia.
Recentemente, descobri que Dojo é apenas um lugar onde se pratica. Um ambiente para dar corpo ao conhecimento por meio dos erros e acertos que provém da prática de algum saber. Não é um lugar de conversa e discussão sobre o conhecimento, mas um laboratório onde as ideias e teorias ganham corpo.
Começo a compreender que Dojo é somente o vazio de um lugar. Não o vazio ordinário, mas o vazio extraordinário. Um lugar limpo que proporciona a experiência de integração do pensar, do sentir e do fazer. Um lugar raro de presença e entrega, onde o conhecimento torna-se vivo em ações. Normalmente, em pequenas ações que contém a grandeza da autenticidade. Um lugar que nos conecta com o fluxo da vida tal qual o leito de um rio. Um lugar sagrado que emociona pela sua simplicidade e poder. Na tradição oriental, o Dojo é conhecido como lugar da iluminação.
Por três décadas, me dediquei a praticar, pesquisar e difundir o Aikido como uma arte marcial que ensina a “transformar o impossível em possível, o possível em fácil e o fácil em elegante.” Uma arte marcial intrigante por transformar o anseio da vitória em compromisso com a harmonia. Numa sociedade competitiva, o Aikido desafia a lógica de poder e controle onde matar um leão por dia para garantir a sobrevivência é uma das expressões favoritas. Mas onde colocar tantos cadáveres ao final do mês? Compreender a natureza dos leões, sair da rota de colisão com as feras e torná-los aliados é um modo metafórico de entender a filosofia do Aikido. Aprendi o Aikido na atmosfera de um Dojo.
Nos últimos anos, tenho sido convidado a fortalecer vínculos de confiança na equipe e sempre começo por criar o campo vazio de um Dojo. Ao criar um Dojo, cria-se um lugar onde o conhecimento ganha corpo e vida. Meu trabalho como consultor e Arquiteto Social tem sido criar Dojos e honrar o poder invisível do lugar onde vivemos, aprendemos e trabalhamos. Numa reunião de lideranças ou educadores, ao criar a atmosfera de um Dojo, emerge o poder criativo do vazio que ocupamos. Criar um Dojo é assegurar um começo potente para qualquer encontro.
José Bueno é arquiteto social e mestre Aikido do Instituto Harmonia