Organizações inovadoras são óbvias para os seres humanos
Organizações inovadoras são obvias para os seres humanos
Por Mauricio Goldstein
A lembrança da chamada Trégua de Natal de 1914 surgiu no rastro de um insight a respeito da origem fundamental do sucesso das organizações inovadoras. Essas organizações funcionam bem e progridem exatamente por que são, no final das contas, a mais próxima tradução, na atividade corporativa, dos anseios e impulsos humanos.
Claro, o ambiente nas empresas, por mais hostil que seja, não lembra guerras em trincheiras. Mas da mesma maneira que, por alguns dias, os combatentes de 1914 desprezaram ordens, hierarquias, esquemas táticos vindos, peremptórios, do alto, e deixaram fluir o jeito humano de fazer as coisas, nas empresas inovadoras essa saudável “rebeldia” contra imposições que são estranhas à nossa natureza também está presente. Nessas organizações, todos os integrantes têm voz; as lideranças surgem de maneira natural; as ideias competem de igual para igual; e os recursos são livres para fluir… esses são atributos típicos da maneira de agir e de pensar dos seres humanos. Tanto na dimensão privada, quanto na pública.
Para checar se é verdade o que acabou de ser dito, é só fazer a leitura do parágrafo acima com o sinal invertido: É natural que, em algum grupo de pessoas, a opinião de um seja levada em conta e a dos outros seja sistematicamente ignorada? Não, não é assim que funcionamos. Se várias pessoas estão diante de um desafio que as afeta igualmente, alguém irá concordar que apenas a sugestão de uma delas para solucionar a questão seja levada em conta, sem debates? Também, não. Da mesma maneira, um grupo irá aceitar como líder alguém inexperiente ou concordar que os recursos disponíveis para o progresso de todos fiquem na mão de apenas um deles? Não, quem se sentiria bem em uma situação como essa?
Ou seja, os princípios adotados pelas organizações inovadoras não são algo extraordinário, inventados do nada. Eles são o natural da vida. Por isso dão certo e fazem com que as organizações que deixam essa maneira de agir fluir com o mínimo de barreiras obtenham mais sucesso. E como as organizações conservadoras também são integradas por seres humanos, essa mesma maneira de pensar e agir também está, e sempre esteve, presente em todas as empresas!
O que acontece é que, nas organizações hierarquizadas e verticalizadas, a verdadeira essência humana pode ser sufocada, mas nunca neutralizada ou anulada. E isso pode trazer duas consequências concomitantes: uma delas é que surgem reações negativas, clima ruim, apatia, má-vontade, desengajamento e infelicidade por parte dos integrantes; e a outra consequência é a emergência de uma organização informal, na qual surge um líder natural, muitas vezes mais respeitado do que o chefe formal; as ideias que prevalecem de fato, são aquelas que surgem fora do fluxo desenhado pela empresa; regulamentos são quebrados; normas são desobedecidas; a rádio peão ganha força e, muitas vezes, acaba se sobrepondo às versões e decisões oficiais…
No final, de uma ou outra maneira, a organização pode até evoluir, mas de uma maneira muito mais penosa e ineficiente do que poderia fazer caso se pautasse pela maneira natural como nós melhor funcionamos.
Comparar o funcionamento dessas duas qualidades de empresas é como observar dois esquiadores que competissem entre si para saber quem cobriria 1 km em menos tempo. Um deles desliza encosta abaixo e o outro faz o caminho oposto, em direção ao cume da montanha. O resultado é fácil de prever. O que as empresas inovadoras fazem é dar vazão a um movimento que já existe nelas próprias, desde tempos imemoriais. Como se, no exemplo dos esquiadores, essas empresas tirassem partido de algo tão natural e espontâneo como a força da gravidade para lhes dar movimento e velocidade. As demais organizações, por sua vez, fazem um enorme esforço para subir uma encosta íngreme, tentando desafiar, sem necessidade, as leis da natureza.
As organizações ditas inovadoras são, na verdade, a forma mais primitiva de organização. Elas são originais e radicais — no sentido que resgatam suas origens e suas raízes. Assim a boa notícia que traz essa constatação é que, sim, uma empresa que seja tradicional e deseje incorporar os princípios que regem as organizações inovadoras conseguirá fazer essa passagem sem ter de partir do zero, reinventar a roda. Toda organização já tem, dentro de si, o que chamamos neste livro de uma organização inovadora. Já possui o essencial para essa mudança, que são as pessoas e sua forma de operar em conjunto. De certa forma, o movimento necessário será muito mais uma adaptação, uma reconexão, do que uma reinvenção para algo totalmente novo. É certo que uma mudança como essa exigirá esforço e concentração. Paradigmas terão de ser quebrados e novos hábitos cultivados. É como restabelecer um fluxo saudável para uma vida que estava em desequilíbrio, apenas isto!
Mauricio Goldstein é sócio e fundador da Corall