Reconhecer o que sentimos nem sempre é uma tarefa fácil pois nossa mente, ao longo da vida, cria artifícios que escondem as emoções “incomodas” na sala escura do nosso inconsciente. Mas o preço que pagamos por guardar essas emoções pode ser bem caro tal como somatizações, estresse ou até mesmo um sentimento profundo e inexplicável de insatisfação.
Como seres sociais que somos, a necessidade de pertencimento e reconhecimento é comum a todos nós. Aprendemos desde muito cedo que determinados comportamentos geram admiração e outros por vezes repreensão, não é mesmo? Isso se aplica a família, amigos, escola e trabalho. Essa coordenação social é necessária para um bem viver com os outros. Ao mesmo tempo, estudos sobre vulnerabilidade como os da pesquisadora e escritora Brené Brown, destacam a importância de reconhecermos nossas emoções e conseguirmos expressá-las nos contextos em que vivemos para que possamos viver de forma plena e crescermos individual e coletivamente.
Nos meus trabalhos como consultora e coach, tenho contribuído para que organizações desenvolvam as condições necessárias para que as pessoas possam expressar não apenas o que pensam, mas também o que sentem. Sentimentos como medo e tristeza quando manifestados são acolhidos e fortalecem os vínculos entre os membros de um time. Já o sentimento da raiva tipicamente ainda não é bem acolhido pelas equipes.
Refleti sobre esse fenômeno e gostaria de oferecer uma perspectiva da neurociência sobre porque esse sentimento parece ser mais difícil de ser acolhido. O sistema límbico é a parte do cérebro onde são processadas nossas emoções, ele contém a famosa amígdala onde são geradas as respostas de lutar ou fugir quando nos sentimos ameaçados. A raiva pode ser vivida pelos que a testemunham como uma ameaça e assim gerar uma reação de defesa ou ataque. Diferentemente, sentimentos como vergonha, medo e tristeza quando compartilhados, não são vividos como uma ameaça.
Se acreditamos que todas as emoções, mesmo que difíceis, são valiosas, tanto sob o ponto de vista pessoal como coletivo, nossa resposta à raiva requer um pouco mais de reflexão. Tanto quem teve o rompante de raiva como o grupo que a testemunhou podem se beneficiar dessa ponderação, uma vez que o sentimento emergiu da relação. Como o dito popular em sua máxima sabedoria já dizia: quando um não quer, dois não brigam!Seguem algumas perguntas possíveis para explorar o tema: Qual a necessidade que quer ser atendida? Por que foi necessário chegar ao ponto da expressão da raiva para nos darmos conta dessa necessidade? Nessa relação existe espaço para a diversidade de perfis e perspectivas? O que pode evoluir na relação a partir desse aprendizado?
Podemos dizer que acolher a vulnerabilidade em sua máxima expressão requer essa prova de fogo que é lidar com o sentimento quente que a raiva representa; mas os que passam por essa prova com certeza saem mais fortes! Convido você a refletir sobre o tema e compartilhar aqui suas experiências e perspectivas.