Qual é o chamado da vida? Qual é o meu chamado neste momento? Qual foi o meu chamado na minha história até hoje? Qual será o meu chamado no futuro?
No último feriado, enquanto caminhava pela praia refletindo sobre a vida, fui tomado novamente por estas perguntas que me acompanham há vários anos. Revendo minha trajetória, tive uma clareza ao me dar conta que em alguns movimentos que transformaram a minha vida, eu não tinha a consciência do meu chamado naquele momento e das transformações que estavam por vir.
Olhando a vida pelo retrovisor, como biógrafo da minha própria história, consegui fazer as ligações entre as minhas escolhas e identificar o fio condutor que conectou estes movimentos. Pensando sobre o que estes movimentos tiveram em comum, ficou claro que durantes estas transformações me sentia especialmente pleno, com extrema clareza, conectado com a minha essência e com muita força e energia focada na realização de um sonho.
Joseph Campbell, estudioso da mitologia e da psicologia humana, nos presenteou com uma profunda reflexão sobre estas questões na sua Jornada do Herói, em que descreve este estado de plenitude como o arrebatamento pela vida. “A pessoa que tenha sido cativada por um chamado, uma devoção, uma crença, um entusiasmo, sacrificará sua segurança, sacrificará até mesmo a própria vida, sacrificará os relacionamentos, sacrificará o prestígio e nem pensará em realização profissional — entregar-se-á inteiro ao seu mito”.
Segundo Campbell, o chamado tira o indivíduo da zona de conforto, da tranquilidade da vida cotidiana e o impulsiona para uma jornada de aventuras, desafios, aprendizados e conquistas até que, ao final, retorna para casa transformado. A mitologia, literatura, cinema, e os contos de fada estão repletos de pessoas que são chamados a buscar dentro de si talentos, força e coragem para superar situações e contextos desafiadores e tornar realidade transformações que estão a serviço de pessoas, da comunidade, de um bem maior.
Andando pela praia reconheci os principais movimentos da minha história e pensei que rever o passado poderia não ser a única forma de identificar o chamado. Em vez deste caminho, será que também podemos identificá-lo nos conectando ao futuro?
Otto Scharmer, Professor do MIT, entrevistou mais de cem líderes de sucesso e realizou anos de pesquisa para co-criar a Teoria U, uma metodologia que busca esclarecer como fazer transformações profundas em si mesmo, em organizações e na sociedade. Foi revelado nessas pesquisas que em um estado profundo de presença e conexão com a realidade, conseguimos ver através do nosso ponto cego e prestar atenção de uma forma que nos permite experimentar a abertura da mente, do coração e da nossa vontade, vivenciando um novo estado de consciência. Neste estado, podemos nos conectar ao futuro emergente e, a partir desta visão, transformar os nossos sonhos em realidade agindo com determinação como se não tivéssemos outra escolha a não ser seguirmos em frente.
Assim sendo, a Teoria U nos indica outro caminho para identificar o chamado. A medida que aprofundamos nossa percepção e estado de presença saímos do automático e abrimos a mente para novas possibilidades, o coração para outros sentimentos e a nossa vontade aos chamados do futuro emergente. Nos conectamos a nossa essência, temos acesso aos nossos talentos e recursos, e encontramos a coragem e a força para avançar com confiança na direção do chamado.
Se o chamado pode ser encontrado na reflexão do passado e na conexão com o futuro ele também tem que estar presente no presente, no aqui e agora. No entanto, reconhecer o chamado no presente pode ser um desafio ainda maior uma vez que vivemos uma grande parte da vida praticamente no piloto automático, sustentando hábitos, comportamentos, crenças e planos que nos mantém em um caminho pré-determinando que, muitas vezes, sequer foi escolhido conscientemente.
Para reconhecer o chamado no presente podemos recorrer a sabedoria do nosso corpo. Como um velho sábio diz no conto “A Jovem das Palavras Doces e Suaves”, de Cristina Vasconcellos, “quando se é capaz de fazer vibrar o dom que existe em cada um de nós, aquilo que flui da nossa alma, como a água flui cristalina da nascente de um majestoso rio, nossos olhos brilham e o coração bate forte e feliz”.
Quando estamos verdadeiramente presentes, percebemos a energia fluindo pelo corpo, sentimos a nossa essência pulsar, ampliamos a consciência, reconhecemos os sinais da sincronicidade do universo, nos abrimos ao arrebatamento e nos entregamos ao fluxo do vida.
Ao olhar para o passado, reconhecemos os movimentos que nos transformaram. No futuro, buscamos sinais do nosso propósito e, no presente, podemos perceber que estamos vivendo o nosso chamado quando os nossos olhos brilham e o coração bate mais forte e feliz.
Convido você a escolher um dos três caminhos, um de cada vez, ou todos ao mesmo tempo, para reconhecer o seu chamado e se entregar de corpo e alma para se transformar e tornar realidade o seu chamado da vida.
José Luiz Weiss é sócio consultor da Corall e escreve para o blog Gestão Fora da Caixa da Exame.