Um roteiro para a empresa de uma nova economia — Modelo de gestão
No Brasil de hoje, existem mais de 80 mil empresas privadas de porte médio a grande (faturamento maior que R$ 50 milhões por ano) passando por processos de expansão, diversificação e/ou crescimento.
Quanto mais o modelo de gestão for desenhado considerando os recursos que existem na organização, tornando-se produto deles, mais forte será. É possível construir esse modelo sem abrir mão das características essenciais de cada companhia e que o antagonismo interno, leva a ganhos menores do que aqueles que poderiam ser conquistados caso tivesse havido uma união de esforços em prol de uma solução. Essa mentalidade ganha-ganha está no coração do nosso programa. Um funcionário tem um objetivo, diferente do de outro colaborador, porém as metas de ambos deveriam ser vistas como dignas e, em vez de alimentarem rivalidades, deveriam ampliar o campo de possibilidades.
Tudo começa com as pessoas
É neste contexto que vemos a missão maior dos líderes conscientes: pôr em marcha as transformações que habilitarão as empresas de hoje a encontrar seu espaço no futuro. Tudo começará na gestão de pessoas, ou seja, na postura do líder; será preciso que ele expanda o olhar em relação ao trabalho, indagando-se sobre seu propósito como gestor, membro de uma família, cidadão de uma localidade e também do planeta. O que quer deixar como legado? Essa autorreflexão mostrará a ele onde está sua força e o que vai movê-lo. Não se trata de super-homens nem de mulheres-maravilha; são pessoas que também estão em evolução e se mostrarão falíveis em alguns contextos. Terão, porém, a humildade de reconhecer que o ambiente que buscam será criado em conjunto com outros, que também estarão numa trilha de aprimoramento pessoal, e para isso será preciso azeitar o fluxo de ideias. Diferenças seguirão existindo, mas as oportunidades serão mais igualitárias.
O brasileiro cordial
Em seu estudo comparativo sobre como a cultura de cada país influencia os valores no ambiente de trabalho, o pesquisador holandês Geert Hofstede, respeitado teórico da biologia das organizações, confere ao Brasil 38 pontos (resultado baixo numa escala de 0 a 100) na dimensão “Individualismo” de seu trabalho. Isso significa que, desde o nascimento, “as pessoas no Brasil integram-se em grupos altamente coesos e fortes (representados pela família estendida, incluindo tios, tias, avós e primos) que se protegem uns aos outros em troca de lealdade”. Em termos de autoimagem, os brasileiros se veem muito mais como “nós” do que como “eu”, configurando uma sociedade altamente coletivista. Nos Estados Unidos, esse índice chega a 91, retrato de uma cultura altamente individualista. De certa forma, temos o capital principal e é relativamente mais simples realizar o caminho para a parte estrutural, levando inovação para a organização, os processos, as políticas de RH; difícil mesmo é a estrada contrária — em ambientes de cultura menos afetiva, voltada para o vencer, onde o simples ato de tocar um colega pode ser considerado inapropriado, será preciso reinventar a empresa para injetar nela o vírus da felicidade.
Janelas abertas para a mudança
Outro fator positivo é o ambiente favorável às transformações, talvez o melhor nos últimos 50 anos. Pode-se dizer que nunca houve tantas ideias, e tão diversas, circulando ao mesmo tempo e provenientes de canais tão diversos. Os jovens — protagonistas das grandes manifestações que chacoalharam o Brasil em junho de 2013 — habituaram-se a operar de forma conectada, abrindo a mente para novas percepções, inclusive sobre um mundo mais justo. Realizar algo socialmente relevante tem mais valor para muitos deles do que simplesmente ficar ricos. Filhos dos confortos proporcionados pela geração que os antecedeu — e daquela mesma visão mecanicista do mundo que hoje, em nossa opinião, não se sustenta mais — , questionam as conquistas materiais e procuram novos significados e propósitos para as próprias vidas.
Vicente Gomes é sócio e fundador da Corall