Burning Man é um dos mais surpreendentes e espetaculares eventos coletivos atualmente organizados no planeta. Não é simples definir o que é o Burning Man[1]. Trata-se de um evento anual de arte, uma espécie de festival, que se estende por dez dias, no qual as pessoas podem se expressar esteticamente de maneira não convencional. Isso significa construir gigantescas instalações que lembram árvores com raízes formadas por polvos, castelos chineses, corpos humanos gigantescos, caminhões que se transformam em lagartas… e juntar a isso malabaristas, atores, fantasiados de cupcakes, centenas (talvez milhares) de pessoas com os corpos pintados, incontáveis bicicletas… enfim, uma multitudinária manifestação de expressões artísticas individuais e coletivas, que parecem um sucedâneo da contracultura dos anos 1960.
O ponto alto é a queima de uma figura humanoide, de 12 m de altura, chamada O Homem, daí o nome Burning Man (Homem em Chamas). A primeira queima do homem se deu em 1986, na Baker Beach, em São Francisco, na Califórnia, na qual o americano Larry Harvey, que viria a ser o fundador do projeto, queimou, na presença de 20 pessoas, o primeiro homem de madeira. Passados 24 anos, em 2012, 56 mil pessoas participavam do evento, agora organizado no leito seco de um lago, o Black Rock Desert, no estado de Nevada. Em 2013, foram 68 mil. Uma comunidade, com todos os serviços básicos de uma cidade, é organizada ali, com ruas, portaria, serviços médicos, polícia e até mesmo um aeroporto.
O Burning Man é notável pela estrutura de funcionamento e processo decisório inovadores que facilitam com que o evento seja replicado em cerca de 40 outros lugares mundo afora.“As pessoas são as mesmas em todos os lugares, em uma gigantesca corporação ou aqui, no Burning Man”, nos contou em entrevista Jim Graham, encarregado da Comunicação do empreendimento.
O Burning Man tem a nos oferecer um exemplo de um empreendimento que, a despeito da sua grande complexidade, tem uma estrutura de decisão interna flexível o suficiente para fazer com que todos os envolvidos se sintam participantes das decisões. As 55 pessoas assalariadas da empresa, juntam-se milhares, sim milhares, de voluntários. “Muitas decisões são tomadas por consenso; o objetivo é que todos se sintam parte do processo de decisão. Apenas quando necessário levamos alguma questão ao chefe.”
Mauricio Goldstein é sócio e consultor da Corall